03 dezembro 2013

Língua Corrente

Uma corrente de e-mail
Um spam
Um espantalho da vida própria
Uma sobra
Na lixeira

Uma corrente de tornozelo
Um passo
Um passado sombrio
Uma cobra
Na cabeceira

Uma corrente sanguínea
Um vírus
Um vislumbre doentio
Uma corda
Pra se enforcar

Uma corrente marítima
Um homem
Uma homenagem póstuma
Um náufrago
A relatar

Uma corrente
Sem uma forma aparente
Vai começar
Uma corrente
Totalmente diferente
De acontecimentos
Interligados
Conectados

Uma corrente
Que te prendia
Já não prende mais
Você é livre
Sempre foi

07 novembro 2013

Falta tempo

O encontro de dois errantes acontece no desencontro. Desencontro da realidade esperada versus a realidade projetada.
O desencontro, bom, ele não acontece, ele desacontece. Ele é fruto de um momento que não vai acontecer, ele se vai. Vai pra onde não se encontra mais, vai pra quem e pra onde não se sente a falta, vai sem rumo, sem ser lembrado, porque nunca existiu.
Ele precisa de tempo, tempo pra voltar atrás e corrigir o encontro que não aconteceu e acontecer.
Acontece que hoje ninguém tem esse tempo, e ao mesmo tempo, tem muito tempo pra perder. Perdem inúmeros momentos desencontrados. A perda é sempre maior que o ganho, e quando ganha, momento raro, perde a chance de celebrá-lo, pois estes não têm tempo pra celebrar... devem ter só tempo a perder, esse sim deve valer a pena.
Uma pena, porque quanto mais tempo se tem, mais tempo se pode perder, e quanto mais tempo se perde, menos tempo se tem.
Os paradoxos foram criados para serem questionados, auditados e por fim, deixados de lado por não fazerem parte (ou lógica) na realidade existente no momento.
Quando um encontro acontece ele precisa ser ao mesmo momento... e quando falta tempo? Há desecontros. Mas "ser ao mesmo momento" é relativo.
Então seja a referência.

14 outubro 2013

Sem essa tez

Eu sigo a vida
Ela me segue de volta
E insiste em me mostrar
Que não tem pra onde fugir
Daquilo que tem dentro de você
Porque é isso que é

Eu sigo as regras
E elas me seguem
Atropelando as minhas ingenuas formas de controlar
Queria ser descontrolado
Controlado por quem quer que seja
Menos eu

Eu sigo amigo
Covarde como só eu sei ser
"Mas eu juro, juro que tentei"
Digo isso pra me confortar
Mas no fundo eu sei
Que estar vivo aqui e agora é a prova de que ainda falta algo pra tentar
Falta mais pra machucar
Não é força, é teimosia, é egoísmo
Que seja

Eu sigo ela
Quer dizer, não sigo mais
Que seja assim
Talvez eu me esqueça
Que a esperança da amnésia
É falta de memória recente e não muito recente
Ressentimento
Recente... re-sente, você sente Rê?
Eu sinto, eu sinto muito mesmo

Eu não precisei perder pra dar valor
Pois já sofria antes de perder
É tão grande que conversa comigo com uma personalidade própria
Não é mais eu, nem você, somos nós
Não é silêncio, é falta de barulho
Não é loucura, é sensatez demais.

02 outubro 2013

Existe um silêncio que não cabe

Entregue aos braços da monotonia e cheirando a um cigarro que não é seu, ele ficou ali parado enquanto a Lua o olhava em silêncio.
- Era pra existir um pouco de magia nesse momento! - pensou ele em voz alta.
Mas não, ele não se via tocado, seja pela Lua, seja pela Terra debaixo dos seus pés. Talvez estivesse em órbita, não se sabe.
- Isso daria um filme, ou melhor, não.
Era a primeira vez que ele se viu como um expectador, e se sentiu desinteressado. Tinha algo que o estava incomodando. Um morto-vivo no sótão, chamando pela sua atenção.

Descabia virtude onde antes eram só medalhas
Sabia, que a cada passo pra frente, dois eram pra trás
Vivia de migalhas
E tudo que antes fazia, agora não faz mais

Escrevia pra se distanciar
Era como se pudesse guardar
Mas era tão grande que em si não cabia
Mesmo que seu peito fosse um hangar

Tudo voltara a ser cinza como ele odiava
Fingia que tinha aprendido a gostar
Se soubesse como dessa sair
Talvez nem isso fosse lhe acalmar

Saber não tinha importância
Porque ele não queria tentar
Como pode algo ser tão insistente e ingênuo ao ponto de ainda perdurar?

Parece uma invenção da sua cabeça
Mas no fundo ele sabe que é
O problema é que pra ter consequência
Basta não se ter o que quer

Existe um silêncio que não cabe, não tem cabimento
Precisa ser calado
Persiste o desaparecimento
A falta, o ser amado

Abriu a janela
Pensou consigo:
- Consigo?
- Consigo! Com ou sem, você consegue
Não se cegue
E a vida segue.

Existe um silêncio que não cabe, não tem cabimento
Preciso ser calado





07 agosto 2013

Jornal

Ok, vamos lá
Vamos ler o jornal
Afinal
Que mal poderia ter?
Afinal
Que mal poderia a mim fazer?
Se eu nem mesmo eu ali estou
Se nada daquilo me afeta
Se o texto não atinge sua meta
Que é de me afeitar
Atacar, matar por dentro
Esse ser tão louco e sedento
Sedento por ignorância
Mas que não perde a arrogância
De falar como quem por cima olha
Como quem, não importando a que chuva se acometa
Não se molha
É melhor que fique assim
Que não se intrometa
Na vida alheia
Alheia
Alheia
Alheia
Alheia à vida alheia
Alheia...
Que siga sua vida
Sem o tal
Jornal

15 julho 2013

Subjetivo


Um profundo desgaste daquilo que era pra ter ficado como essência
E nem tive a decência de dialogar com o tempo
Despercebendo a indecência que eu estava fazendo comigo mesmo
Nada mais me serve de alento
Está tudo caindo, enfraquecendo, levado com o vento
Meus dias sopram um blues que já não mais existe
É fruto do que um dia foi
São saudades, eu sei que são
E é no plural, porque são muitas... e são só minhas
São saudades sua, e você sabe que é de você que estou falando
Saudades da minha ingenuidade, já varrida mundo afora
Pensou que não, mas mexeu e ainda mexe
Se não é a presença, é a falta
Queria não querer
Livros e mais livros explicam o que aconteceu
Mas pra mim sempre foi aquela coisa entre você e eu
Queria não temer
Temer que alguém possa tomar esse lugar, essa sala de estar
Mas eu temo....
Queria não te amar
Mas eu te amo.

09 julho 2013

Vinho tinto

Alguns passos na minha direção
Demonstro minha aflição
De um cara que não sabe falar
De uma mente que não quer calar

Sobre-humano a disputa interna
De querer contar todos os segredos de cara
De esquecer a parte da conquista
E partir pro amor à primeira vista

É claro que nada disso vem fácil
Seria muito estranho se não fosse dócil
[No começo]
Mas parece que tudo só espera
[O meu tropeço]

Ele tenta me embriagar
Me tirar do controle pra me controlar
Abrir uma janela
Respirar
Agora eu sinto
Não, minto, não sinto
Deve ser o vinho tinto

De onde eu tiro tanta conclusão?
Talvez eu esteja saindo da minha direção
Não faço mais sentido
Agora eu sinto
Não, minto, não sinto
Deve-se ao vinho tinto

Acabo de me lembrar
Que a dúvida é pra dialogar
Então fique com a minha pergunta
A quem você quer enganar?
Sinto muito
Minto, não sinto
Deve ser o vinho tinto

Era pra ser uma mentira
De quem só faz por brincadeira
No intuito de que de alguma maneira
Sua mente descubra que nunca caíra
Nessa besteira
Queria tanto... minto, não queria
Era só mais um vinho tinto.

28 maio 2013

O Castelo e o dragão

Adote um dote
Denote
Note
Que a nota que agora anotas não é musical
e nem era pra ser
Era mesmo pra ninguém ler
E se entreter

Tu não anotas porque não tem o que notar
Sua atenção é virada, desvairada
Se a presta, empresta e nunca mais a tem de volta
Corre por ai a solta
Sem escolta

Olhe
Vem vindo alguém
Será que sabe como ir além?
E se não souber, o que é que tem?
Você aprende
...
Ah não, não é ninguém!
...
(Amém)

21 maio 2013

Ar alto, raro efeito

As vezes é um mero trocadilho
Que me vem de encontro
Talvez um empecilho
Meio assim, meio de canto

É um solavanco
Que me tira do compasso
As vezes nem me tento
As vezes nem me acho

É um suspiro desacordado
Pra me desequilibrar
Porque sabe que meu adorno é dissimular

Daí então eu me pergunto:
Com quem mesmo que eu me pareço?
Com a apatia de antes ou com o desinteresse de agora?
Sou apostas de que um dia vou perder
Sou pergunta nunca querendo responder
Então, que seja declarada a paz
Os dois lados se rendem
E todos perdem para poder ganhar
Uma mesmice disfarçada de sossego
Uma voz do que todos querem
Que entra pra ensaiar o desapego
Faz o que ninguém você faria
Ela não tem nome ou identidade
Mas atende por democracia

29 abril 2013

Coma

Talvez o mundo ainda seja do jeito que eu lembrava
Talvez a lembrança ainda seja do mundo do mesmo jeito
Talvez o mundo seja lembrado do mesmo jeito que eu lembro
Talvez o jeito seja ter mundo ainda na lembrança
Talvez o mundo ainda lembre do seu jeito
Talvez não haja jeito
Nem lembrança
Nem mundo
Só existe a dúvida

25 abril 2013

Fantasma

Sou um grito
Sou um sopro
Eu nunca amito
Eu nunca sofro

Abro minha mente
Pra todo tipo de gente
Desvirtuo a razão
Pra uma lógica menos inteligente

Quem sabe assim não me distraio
Com outras vertentes?
Quem sabe assim não me distraio
Com outra gente carente?

Fico com a dúvida por ela não tem fim
Escolho uma saída, mas não saio
Quero saber o que ganho se ficar..
[Observando de soslaio]
Penso que fazendo assim
Sou menos aparente
Pena que eu sempre esqueço
Que sou fantasma transparente



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