19 novembro 2015
Talvez
Talvez hoje ela apareça
Talvez a campainha toque
A foto não desfoque
O coração não apodreça
Meu dia começa com um quase
Quase não acordo a tempo pra poder sair
Quase não recordo o tempo que você se foi
A parte do meu corpo que ainda dói
Da ficha que demorou a cair
Meu dia começa com um som
Som da minha respiração
Som da falta da sua
Da lembrança nua e crua
O sussurro da imaginação
O meu dia começa devagar
Devagar eu me reconheço
Devagar eu deixo sonho de lado
Abro o chuveiro e nado
Nas águas que renovam, recomeço
O meu dia começa porque ele não sabe fazer diferente
Diferente da noite
Diferente do que eu queria que fosse
De um punhado de doce
Que açoite!
O meu dia começa com um talvez
Talvez eu cometa os mesmos erros
Talvez eles sejam maiores
Ao vivo e à cores
Sem medo, sem rima.
16 outubro 2015
Abalo cínico
Tiro certeiro no coração
Doce
Com ou sem ti, mentos, eu sou mais você do que eu
Que seja consentido o nosso amor sem sentido
Que seja pra que não falte por não ter tido
Nesse gosto entretido eu me deixo
Em meio aos lados opostos da nossa confusão
20 maio 2015
À vida
O lúdico e solitário
Rebento de mim mesmo
Dono de mim
Dono da minha vaidade
Da minha verdade
Dono da minha quietude
Do meu medo de altitude
Me cansa a forma como eu me cuido
Me faço sobreviver frente as farsas
Da forma como encaro de frente
Frente aos descuidos da minha mente
Me canso de ser o avesso
De ter pouco apresso
De parecer o que não pareço
De não ter um terço, nem a metade
Tenho medo e isso me cansa também
Saber que o que tenho não me faz ir além
Mas me mantém, como refém
Me canso de fazer tudo
De ser o começo, o meio e o fim
Decidir entre o bem e o mal
Ser sem forma, informal
Longe de mim
Canso da procura
Da falta de postura
Das fantasias sem uma costura
De sonhos sem cura
Me canso da facilidade como descubro
A felicidade que há nos outros e não há em mim
Me canso da ver o que há através
De ser aquilo que tu não és
Me canso de achar que divagando eu posso me curar
Me canso de estar certo
Me canso de ser o paciente, o médico e o remédio
A sala de estar e não estar
Me apodreço de tanta esperança
De um romantismo crônico
De estar errado
De ser muito mais do que o mundo me trouxe
Me embebedo por tamanha consciência
Me canso porque a minha vida é me cansar
Talvez fosse diferente se eu a ela me ausentar
E a mim mesmo aceitar
Que no fim haverá um descanso
11 maio 2015
Aparentemente
Momento de ouvir
Aquilo que quero
Aquilo que não quero
Aquilo que acho que preciso
Aquilo que acho que não preciso mas na verdade é o que realmente preciso
Silencio dentro pra absorver e organizar o barulho que vem de fora
O barulho aqui dentro foi suficiente já, até demais
Faz necessário um respeito
Da carne que me sustenta
Da cama que me aceita
Dos ouvidos internos, que estão cansados
Da mente que não mente
Da verdade que é cega
Da solidão que não nega
Então eu posso respirar
Continuar a ser gente
É hora de ouvir o som do mundo
É hora, minuto e segundo
O tempo bate e te leva
Um pedaço meu, um pedaço dela
Uma tatuagem, uma imagem
Uma homenagem
03 março 2015
Criando raízes
Ao estalar os dedos eu percebi que eles eram feitos de madeira. Boa parte de mim começou a ranger e parecer que estava estalando, a ponto de desabar.
Folhas cresceram em minhas pernas, mãos e braços. Meus pêlos se tornaram espinhos, mas não me machucavam.
Uma grande copa a minha cabeleira se tornou, e abrigo para alguns pássaros.
Meus pés ganharam formatos de raízes, e meus dedos se alongaram e entraram pela terra a procura de nutrientes e água.
Meus olhos agora não tinham mais utilidade, dada minha locomoção.
Eu não tinha mais pra onde ir, e ao invés disso agora todos estavam à minha busca, minha volta, em meu abrigo.
Eu não queria mais me mover, queria apenas tocar esse planeta que me segurou por alguns anos.
Faltavam essas raízes, faltavam os raios do sol que sempre me procurava.
Agora sou amigo do vento, da chuva e dos bichinhos que me usam como casa ou trampolim.
O tempo é meu carteiro e de agora em diante ele já sabe onde me encontrar.
20 fevereiro 2015
Oi
Apago por que tudo não apenas parece como também é muito ridículo
Sou um ridículo
Não estou aqui tentando que você sinta pena por essa minha indagação, apenas o sou
Apago porque não foi o suficiente para se acender, se ascender
Já coloquei muita porcaria pra fora porque não cabia mais aqui dentro, onde eu guardo tanta coisa importante e preciosa
Preciosa ao ponto de me deixar um colecionador maníaco
Que olha pra sua coleção de coisinhas guardadas, lustradas... admirado
Mas apagar só foi conjugado hoje, antes era executado
Eu passei um tempo sem escrever, é verdade
Passei porque o prazer me tomava o tempo e me faltavam palavras
Não que hoje eu as pertença
Talvez se façam mais necessárias, sem desavença
Eu tinha minha catarse de outra maneira, minha inspiração
Hoje preciso expirar, deixar sair
Tá tudo muito apertado aqui dentro, não mais me alimento
Tá fazendo muita falta a dona disso tudo, tá tão perto e ao mesmo tempo tão longe
Ela quis assim, e que assim seja
Minha vida, minha cereja, minha narceja.