11 dezembro 2012

Economista

Abreviando a vida
Falando só o necessário
Sendo direto, focado
Enforcado, forçado a economizar
Economista do nada
Reduzindo o custo, a que custo?
"Nada é de graça!"
Prevê o susto, sem graça
Abraça a massa sendo só
Sente falta da taça, do vinho, do desperdício
Mora em seu próprio hospício
Sem auspício
Mudo em seu palanque
Exigindo platéia pro seu comício
Sem desperdício, só o necessário
Sério, sem fala, salafrário

Mal interpretado, apertado, abreviado
"Falta de consciência
Vai à falência"
Desse jeito vai acabar
Não pode usar
Vamos ponderar, reduzir
Evita, guarda pra si
Economista, de nada
Obrigado a regular
Manter a manada
Segurar a onda
Repensar, aguardar

Perdeu tanto guardando que aguarda a eternidade pra não ter que perdoar.

07 novembro 2012

Acorde musical

Ah, a música
Te teletransporta
Abre uma porta
E se aporta

Fica e evanesce
Com outro sentido
Sem ter tido
Pra si
Entretido
Pra ti... Comportar
Abortar a realidade
Ter saudade
Da maldade de criança
Esperança
Nada que não se possa ter
Amadurecer
Amanhecer... acorde.

22 outubro 2012

Olá, tem alguém ai?

...Daí então você aprende, passa a vida aprendendo e morre sem saber. Quer encontrar a desgraça em forma de felicidade pra poder se dizer digno e ao mesmo tempo merecedor. Era pra ser inteligente, mas agora só conta um passado remoto de condecorações que não lhe servem pra mais nada. O mundo é assim: Você sabe que vão te cortar em pedaços, mas paga pra ver e passa a maior parte do tempo tentando recolher o que sobrou de ti, mesmo sabendo que conseguirá no máximo ser agora um Frankenstein. Você está vivo, mas carrega dentro de si um abajur que pisca dizendo que ainda funciona, só que você sempre liga ele em 220V quando o coitado já nem 110V aguenta mais.
Você abre uma brecha pra poder deixar o ar lá de fora entrar, com medo de entrar demais e esfriar a lareira que agora só é brasa morna. Você ainda consegue fazer o sorriso da Monalisa achando que pertencerá a um grupo que nem mesmo existe e que mesmo assim não quer você.
Era pra soar melancólico sem nexo, mas infelizmente você se vê nessa sangria. Era pra ter sido passado, mas ninguém o quer, ...embrulhe-se pra presente.
Era pra ter sido abatido a muitos anos atrás, junto com a manada que pertencia, mas foi arredio e fugiu e olha no que deu! ...agora quer voltar.
Anime-se, vá! Se fosse verdade você está no lucro, e você não está, ou está? Logo se lembrará que tudo isso não passa de umas palavras mal escritas e que tudo deve ser mentira, provavelmente.

19 outubro 2012

Eu tenho pena

Eu tenho pena dos que saem a noite sem rumo
Tenho pena porque só elas sabem do que estou falando
Tenho pena do escuro, porque, é claro, ninguém o vê
Tenho pena da luz, porque esconde a fonte
Tenho pena dos desiludidos pelo amor
Tenho pena da moça que só tira a roupa porque sente calor

Eu tenho pena da família do suicida
Tenho pena da carne moída
Tenho pena do rei no castelo, da côrte e da nobreza
Tenho pena da lei do martelo, da sorte e da lerdeza
Tenho pena daqueles que dependem da mesma
Tenho pena dos que esperam
Tenho pena dos que perdem tempo
Tenho pena dos que cuidam
Tenho pena dos que guardam rancor
Tenho pena de mim e quem mais for

Tenho tanta pena que não me esqueço quem eu sou
Sou uma ave que de tanta pena não sabe levantar voo

17 outubro 2012

João bobo

Deixa eu fingir com você
Deixa eu fingir que somos unidos, que temos conexão
Deixa eu fingir que temos uma vida normal, que temos algo em comum
Deixa eu fingir que o nosso futuro é promissor, desejado por qualquer um

Vamos fingir que não temos nenhum contrato social, contrariando a realidade
Vamos fingir que de vez em quando sentimos saudade
Vamos diminuir a intensidade da luz para fingir que temos interesse no que não estamos vendo
Vamos fingir que temos, mesmo não tendo
Vamos amaciar a carne e comê-la crua
Vamos fingir que essa carne é minha e não sua
Vamos amolecer os corações dos outros amantes com nossos beijos
Vamos fingir que esses beijos são músicas com lindos arpejos

Eu preciso fingir que dizer é não mentir
Eu preciso dizer que fingir é como não sentir
Eu preciso agora dizer que eu sinto, sinto muito
E eu preciso dizer que eu fingi o tempo todo
Eu te amo, foi tudo um engano
Era pra ser uma brincadeira, eu sou um bobo... seu bobo.

14 outubro 2012

Triste fim da bolsa de valores

Adalberto vestiu seu jaleco xadrez e colocou seu chapéu e todos os apetrechos que lhe eram exigidos para sua tarefa, estava pronto para mais um dia.
Era muito rico e por isso distribuía o que tinha de mais precioso aos outros, não importasse quem. Assim ele recebia de volta muito mais do que entregara, e guardava para si. E com isso ele juntava uma fortuna que todos os dias a noite ele as trazia novamente na cama, antes de dormir, e ficava admirando sua riqueza... É fato que no final do dia toda ela era utilizada e era necessário juntar mais o mesmo montante, pelo menos, no dia seguinte. Seu bem era perecível, sua riqueza não podia ser acumulada.

A casa de Adalberto também era muito rica, obviamente, e era muito visitada pelas pessoas que compravam os serviços de seu dono, que vale aqui salientar, sempre fez questão de nunca cobrar por isso.

Se passaram alguns anos e o nosso protagonista se viu em uma situação difícil de lidar. Algumas pessoas não queriam mais a sua riqueza de graça e preferiam a miséria, coisa que ele não conseguia entender. Ele não teve escolha a não ser cobrar para que ela fosse entregue, uma vez que agora sim as pessoas permitiam, pois era a nova forma de se distribuir o que se tinha. Era preciso cobrar antes para depois entregar. Chamavam de troca.

A troca por um momento fez seu papel e parecia ser realmente a reinvenção da forma como Adalberto lidava com suas riquezas, e não só dele como a de todo o mundo. O fato é que nada mais era feito sem troca. Tudo era cobrado e antecipadamente, mesmo sem ter nada para distribuir as pessoas cobravam. A cobrança já era feita sem medida alguma, ao ponto que os bens foram se esvaindo e só sobraram as contas, as dívidas e a miséria generalizada. Adalberto não conseguia mais doar sua fortuna porque diziam não poderem mais pagar por ela.

A riqueza era a alegria, o sorriso, um abraço, um olhar... uma cia.

04 setembro 2012

Visão turva

Desarrumava as palavras pra ele não poder ver o que estava por trás daquele amontoado de nada
Amontoada, queria não estar naquela toada, queria deixar de ser e estar para permanecer, ficar
Era saliva molhada no nada querendo ser ladra e roubada pra poder voar que nem um avião
E sua mão, arteira na arte de não se conter em um lugar e ir na contramão, queria um abrigo
Era pra ser um amigo, dizia a cabeça pesada envolta por um Sebastião qualquer
[Que faz sua mente presente ficar mais distante querendo um malmequer]
Mas ela sabia que fazia um tempo que ele sabia o que ela fazia pra ele não saber

Ele sabia tocar uma música ali dentro da sala acústica dela
Era pra ser só um show, mas ficou
Ecoando como ondas do mar
Quebrando seus paradigmas, de dentro pra fora
E fora que toda vez que ela ouvia as ondas dava vontade de dançar
Era pra ser só um som devagar, mas divagou
Não dava pra voltar atrás, ficou profundo demais
Ondas quebrando no cais

E então, ela arrumou as palavras certas e as erradas de uma só vez, tornando-as em silêncio. Só então ele pôde escutá-la e ela a si mesma também.

26 agosto 2012

Floresta sem arestas

Está longe, está muito longe do seu curso normal das coisas. Ele se viu entre animais e vegetação nunca antes explorada. Era pra ser intrigante, mas ele não sabia que ali podia se esconder um grande inimigo, o desconhecido.
Muitas pessoas diziam pra ele que o desconhecido podia ser algo que trouxesse esperança, motivação... mas ele é piegas e sabe muito bem o que aquilo que ele não conhece pode significar pra ele.
Essas pessoas comem coisas diferentes e dizem a todo momento o quanto estão felizes e como a comida está saborosa. Ele nunca antes precisou dizer o quanto estava feliz pra se sentir feliz, mas parece que agora nessa floresta negra ele precisa se expressar. Pôr pra fora para só então sentir o que há por dentro.
Era muita coisa nova, cada passa era observado por aqueles que não tinham com o que se ocupar. Sua vida era controlada para que não saísse do combinado, pois senão iriam colocá-lo no canto como se fosse um doente... e talvez até o fosse, visto que essa floresta a cada dia que passava parecia mais e mais o lugar mais perfeito do mundo, segundo milhares de cartazes, frases e discursos aclamados todos os dias.
Era um mar de gente que sabia a hora exata de se fazer amigos, a hora exata para compartilhar emoções falsas, se martirizar por isso e no fim pagar alguém para que os diga que estão doentes e que precisam de ajuda contínua.
Ele não sabia se tudo isso se passava porque ele tinha errado o caminho lá trás ou se era uma questão de tempo.

- No fim tudo se resume ao espaço e tempo - disse ele, querendo com isso reduzir a repulsa que sentia.

Era uma época desconhecida, o futuro. Essa caminhada teve seu curso reduzido por conta de sua observação acerca da floresta. Na verdade não havia prisão, mas todos estavam muito próximos uns dos outros e isso era necessário segundo as regras. Era preciso interagir, era preciso compartilhar, mesmo que os resultados sempre terminassem sempre na decisão do mais influente.
Ele não entendia, o quanto era preciso para que eles entendessem que só se pode adicionar quanto se tem algo para tal.

- Todos temos algo? - questionou-se frente ao chamado.

Reunião de um bocado de gente
Desunião de suas crenças, se é que tinha
Abrasão do que era pontiagudo
Pra se ter tudo em linha
E se tornar um ser mudo

Abraçou o travesseiro da informação como fazia todas as noites, a fim de encontrar um pouco do que tinha deixado para trás. Era uma luta diária, tinha que ser luta.

Desde então sua floresta se tornou a floresta negra sem árvores, habitada por seres com seus mundos, apenas seus.

E ele ficou por lá até descobrir que a caminhada não mudou de curso e sim seu passo que se tornou mais curto.

14 maio 2012

Não sabia nada do agora

Nem quando nem com quem
É muito tempo, é tempo demais
Futuro que não volta atrás
É briga com o que já não pode mais

É menino solto
(Sabe-se lá)
É caminho certo
Pra quem nunca está
Ou se era ou será

Sabiá
Nade agora
Só tem asa pra voar?

Nem quando nem com quem
É muito tempo, faz tempo
É fruto que não cai
É um tudo que já não me atrai

É menino solto
(Sabe-se lá)
É caminho certo
Pra quem nunca está
Ou se era ou será

O nunca é confortável
Sempre, detestável
Repita aquela prece
Ande, se apresse

Nem quando nem com quem
É menino solto
É muito tempo, é tempo demais
É rio que não acaba mais

03 maio 2012

Desatino

Cheio de fome
Alimento sem nome
Engasgado, comendo nós
Existe resposta quando estamos a sós?

Tão raro, tão caro
Se não se paga adiantado, a vista
Se paga a prazo, pro infinito
Mas se paga

Ele mesmo não sabia o que era
Se ilha ou se quimera
Se no pico ou se na cratera
Sem planos, sem esferas

Sem fome
Cheio de nome
Se não é aquele que some
É o que consome

É contradito, o maldito
Inventa notas sem se notar
Adota uma postura
Exposta para atacar

Engasgado, comendo a sós
Existe resposta entre nós?

Cheio nota
Cheio de dó
Cheio de si
Cheio de tudo
Cheio de nada
Cheio da sobra de ser camarada

23 abril 2012

Vaga

Aqui tem vaga
É uma vaga vaga
que vaga
devagar...desocupada.

Devagar e sempre
De uma estação a outra
A divagar qual seria sua sina
Que na escola ninguém ensina.

Ela tem requisitos
Mitos e metas
Tamanho e tempo disponível
Ou seja, exigências.

Exige e cobra
Por isso segue vaga
Ocupa uma falta de existência
Existe na ausência

O vazio é necessário
Um nada que dá seu lugar
Um quarto vago, querendo se ocupar.

16 março 2012

Pra fora

E o choro vem bem forte
Vem de dentro, vem de fora
Choro engasgado, choro enroscado
Corre como rio, corre e socorre
Ele tinha ido embora a muito tempo
[sem dar adeus]
Agora eu sei onde ele mora
[mora dentro de mim]

Choro torto, choro senil
Chora menino... chora rio que vira mar
Sorria garoto, vá amar
A vida fica entre poros, cicatrizes
A vida chora em forma de atrizes
[Única forma de autenticidade]
Chora homem, chora sonho velado
Do engasgo, do nó, veio a tosse
Veio tudo de uma vez só
Era respiro, era lágrima
Era alívio, era magma
Vulcão que entra em erupção
Saudade, raiva e alegria
Vontade de negar a negação

Chora homem, chora menino
Chora rio, chora brio
Sai pra encontrar seu mundo
Deixe esse espaço um pouco mais profundo
Vá-se embora pra voltar
Pois aqui, dentro de mim
Terá sempre seu lugar

14 março 2012

Um a menos

Não compartilho da sua insensatez exacerbada
Não crio um buraco só pra me sentir vazio
Não me castigo por ter sido feliz
Não me calo quando era pra ter dito
Melhor ser aberto que interdito.

O pensa-dor

Quando é pequeno o suficiente a gente aperta, aperta até sumir, esmagando entre os dedos. Depois a gente engole o que sobrou, meio que de mal gosto como se fosse um ritual, uma oferenda, um sacrifício. Quando é grande a gente finge que não vê. Tal qual uma parede que fica sendo observada de rabo de olho. É só um apoio, não tem bem uma cor definida, uma forma. Não adianta bater, porque só vai doer em quem bate.

Nada batia, era pra ter um tamanho, seja grande ou pequeno, mas não tinha. Quer dizer, tinha, mas isso não importava. Agora você vai pensar que eu contei aquela história anterior a troco de nada. Bem, sinto lhe dizer, mas só você pode responder isso. Pois bem, era difícil de definir. Ora, como não podia ter um tamanho? - Precisa-se de uma régua, urgente! - Definir faz parte, sem isso eu me perco.

Perdido, era a palavra: Aquele que tenta se achar. Veio atrás de um tamanho, uma régua e uma definição. Coitado, agora sem ter aonde escorar, nem tem o que engolir. Bem feito.

Feito barata tonta ele juntava migalhas a fim de afixar um marco, uma origem [mas barata não faz isso, mas foi feito]. Criara um lugar conhecido e dele fez-se achar.

Acho até que conseguiu, mas tamanha era sua angustia em juntar, que o tamanho foi esquecido. A angústia agora era um problema maior do que a definição de antes. Pelo menos estava definido: angústia, decepção, baixa-estima, tudo tinha um nome, foi achado. As migalhas ainda estavam lá, fazendo boa parte da nova decoração do lugar. Era seu.

Seu conforto foi moldado. Era uma espécie de consolo, raiva. Agora nem tudo devia ser visto, esmagado ou apoiado. Havia choro. Ele já não sabia porque estava ali. Se tivesse saido Dali antes, talvez não fosse preciso criar nada. Seu problema, pensou, "foram as migalhas". Seu erro: ter esquecido.

04 março 2012

Feitiço


Amador amuado
Adorador agorado
Um odor adormecido
Um amor amordaçado
Um tecido retirado
Era só um ter sido
Assim
Enquanto era o outro
Assado
Feito isso
Enfeitiçado

15 fevereiro 2012

Sommelier

Com sede, consente
Concede e sente
Um contato
Contente
E o tinto ele consome
E some
Busca uma soma
Que tome, que lhe tenha
(E não se atenha)
Contenha... um tema
E que tema!
Que erros cometa
Que seja
Mais que um cometa
Que fique, indique
Que dê uma dica
Que abdique do dique
Que solte as amarras

Essa busca..
E esse busca também
Só que não sabe bem
Se é a falta do tinto ou se de alguém
Sobra o tinto
Dele se pode provar

02 fevereiro 2012

"Age Homem"

E é quando a alma acalma,
Quando você retorna pra si
Enxerga tudo diferente
Novamente

Sente um pouco de frio
Um vazio, mas um vazio muito querido
Um vazio que te faz recordar
Desapegar

Era outro destino que você via
Era outra semente que seria plantada
E agora é só você, afinal
Nada mal

Pouco tempo atrás seria lamento
Seria dor, sem argumento
Agora tudo é possível
Audível

Seus ouvidos estão voltados para dentro
Sua energia, força, recarregadas
Foi preciso viver a tempestade
Agora, saudade

Saudade sem dor
Apenas talvez, vaidade
Se sentir pela metade
Metade que não se tem mais

27 janeiro 2012

Ata dura

A gente se esquece quando se aquece
Estremece quando envelhece, acontece
Então evita fadiga (não diga)
Tem uma cria, cantiga
Vira monstro pra fazer de conta
Abre o peito pra trocar o conceito
Pensa de novo pra pensar direito

Hoje a gente não esquece mais
Sabe que não pode olhar pra trás
Mas também não sabe obedecer
Aquele que nos ensina a não entristecer

- Parece tortura, desaparece!
Ô calo doído que não apetece
Faz trocar de sapato de tão chato
Vai ver nem é calo, é carrapato



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