15 março 2010

Temporada de caça (Projeto Telefone sem fio)

Ilustração: Soledad Cifuentes

Julie vivia em uma época em que caçar cervos era uma diversão. Seus irmãos é que gostavam de caçar e ela nunca tinha ido antes, pois era coisa de homem, então só ficava em casa ajudando sua mãe. Tinha um gênio forte e como era a única mulher entre os homens da época, aprendeu a guardar aquilo que sentia. Ultimamente os dias de caça não estavam trazendo muito, já que o cervo que estava sendo caçado havia semanas, permanecia intacto.

Em um dia de caça, Julie saiu para colher alguns temperos para o almoço enquanto seus irmãos, pai e tios estavam a caçar este cervo que vivia em sua terra e teimava em não ser achado (como diziam eles), seja por cães farejadores, seja por caçadores bem experientes.

No momento em que se via procurando alguns condimentos, se assustou ao ver ao longe o cervo, se alimentando, comendo grama fresca, parecendo não ter qualquer preocupação e/ou de estar sendo procurado. Uma figura imponente, um cervo imperial, com chifres imensos. No momento em que ela o viu, ele para de comer e se ergue olhando-a fixamente por um breve momento. Neste instante, Julie sente como se estivesse fora de seu corpo, observando uma natureza que nunca antes tivera oportunidade de ver. Um animal selvagem como aquele, sua tranquilidade, com a natureza verde ao fundo.

Foi então que foi um barulho de cães, cavalos atrás dela a fez sair deste momento de devaneio e começou a fazer barulhos, tentando espantar o cervo. E ele mesmo assim continuou a olhá-la sem se mover. Ela olhou para trás e viu a orda de caçadores se aproximando agora sorrateiramente. Olhou para procurar o cervo e ele já havia sumido.

Julie nunca mais viu este animal desde então, nem mesmo falou sobre o encontro. Alguns meses depois, finalmente ele foi abatido pelos caçadores.

Estendido de cabeça para baixo, ao ver seu amigo errante frio e imaculado, Julie se lembrou do breve momento que teve ao seu encontro e como ele foi bom e repentino. Seu segredo agora não parecia fazer a menor diferença e se sentiu feliz ainda sim por tê-lo espantado naquele momento, dando-lhe um pouco mais do seu tempo de vida. Ela sabia que muito provavelmente sua ação pode não ter feito também diferença ao cervo, já que ele se mantinha vivo até então... mas quem pode culpá-la se era assim que era gostava de pensar.

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Com esse segundo trabalho, terminamos nosso "teste" e gostamos muito do resultado, espero que vocês também. Eu e Soledad, estamos pensando em construir um blog especialmente para este fim, onde cada post teria a contribuição de mais de uma pessoa pelo menos, sejam mídias diferentes ou não.

Esperamos em breve poder anunciar esta criação, até lá iremos nos divertir com mais posts compartilhando pontos de vistas diferentes da mesma paisagem.

2 co-mentários:

Marina disse...

Ei, gostei de ver você escrevendo prosa. Ficou diferente, mas bem legal. Achei a história ótima.

Faz tempo que não passo por aqui, mas vou ler ainda os atrasados. Beijos!

Francine Ribeiro disse...

Murilo se aventurando cada vez mais com as palavras!
Gostei dos dois posts!
Achei a ideia bem interessante. Parabéns pra vcs!!
Posso participar dessas experiências?! ser uma contribuinte!..hehe
abraços



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