07 fevereiro 2010

Coisa de nossa cabeça (Projeto Telefone sem fio)


São Paulo parada. Nenhuma via dava acesso, como sempre. Todos estavam querendo chegar em casa. Tudo consequência das chuvas que não cansavam de castigar a grande metrópole fazia algumas semanas seguidas.

Em meio a todo esse caos estava Bianca, Bia para os mais íntimos. Bia voltava para casa com a tranquilidade de quem está a passear por um parque calmo cheio de árvores e muito verde, ou seja, o semblante comum dos transeuntes das grandes cidades. Um ar de avoada, comum a quem parece não ser deste mundo. Estava vivendo mais nesse mundo do que ela mesma gostaria de admitir.

Mora sozinha desde que sua mãe faleceu e agora só recebe algumas visitas da tia, irmã mais velha de sua mãe. Visitas essas que tinham muito mais interesses por parte da tia e Bia se via cada vez mais afastada da única família que havia lhe restado.

O fato é que nossa amiga errante trazia consigo uma tranqüilidade que assustavam até os acelerados a sua volta. Do restaurante que trabalhava como garçonete pegava dois metrôs ela já estava na porta de casa. Era sempre o último horário e estava quase sempre sozinha.

Uma noite voltando para casa, esperando seu metrô, Bia percebeu a existência de uma cia estranha nesta noite. De alguma forma ele lhe parecia familiar. Acenou com um levantar de sobrancelhas e com esse gesto sentiu como se tivesse feito algo automático mas que de alguma forma, naquele momento, lhe trazia também à Terra. Veio a tona então que este ser, que esperava também sua mesma condução, vinha fazendo isso a pelo menos uma semana atrás. Bia nem tinha se dado conta de sua presença até então. Sentaram um de frente para o outro e acabaram iniciando uma conversa. Isso se deu por mais alguns 3 ou 4 dias até que ela soube seu nome, Max.

Queria ela que sua viagem demorasse para que pudesse ter um pouco mais do que conversar com essa pessoa que parecia gostar de passar o tempo com ela. Seus dias se transformaram em noites. Noites estas que se resumiam apenas no final do expediente que vinha para lhe tirar do transe do dia a dia.

Conversas sérias, risadas, um amigo que ela nunca teve. Os problemas que a cidade vinha sentindo ficava cada vez mais longe dos seus e agora ela se concentrava em descobrir como não perder isso que tinha encontrado. Ele era um rapaz que agora chamava muito mais a atenção dela do que quando se conheceram. Ter ele por perto era como se sentir em casa. Quando ela pensava nesse momento dos dois juntos era uma forma de ser transportada para uma lembrança que ela gostava de ter e saber que era compartilhado.

Não sabia seu telefone nem forma alguma de contatá-lo além de seu primeiro nome. Não sabia também se esse nome era verdadeiro. Não conseguia tomar a iniciativa de perguntar mais sobre ele. A internet, tv, rádio anunciavam o fim das enchentes e das chuvas que não cessavam. Mas Bia não se importava pois hoje seria o dia em que ela iria arriscar saber mais sobre esse novo companheiro de viagens.

Depois de comprada a passagem foi ela esperar na estação. Seu companheiro parecia atrasado desta vez. Sua hora chegou e por fim ela sentou em seu lugar, indo pra casa sem ele. Nos dias seguintes o mesmo se repetiu. As mídias anunciavam que as tempestades tinham ido embora e São Paulo não viveria mais por enquanto os alagamentos nem super congestionamentos que parava a cidade. Bia desde então não encontrou mais seu amigo. Se encontrava novamente sozinha na estação todas as noites. Hoje todo dia que chove ela sai mais cedo na esperança de um dia voltar a encontrá-lo passando em frente a estação. Suas lembranças agora a levavam para uma casa do qual ela não gostava de estar.

Nunca havia falado dele para ninguém. Talvez assim ninguém a chamasse de louca ou pensasse que foi coisa de sua cabeça... mas afinal, como poderia deixar de ter sido?

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Gostaria de agradecer à Soledad por ter aceitado participar desta ideia.

A ideia: Ela fazer um ilustra (este que está no topo do post) e depois eu escrever um conto/poema inspirado no mesmo.

Agora será feito o mesmo mas em tempos inversos. Eu farei um conto e depois ela fará um ilustra sobre. Vamos ver como vai ficar. :)

3 co-mentários:

Anônimo disse...

eu já imaginehi um curta...ou hq...adorei! Estou curiosa em saber q aconteceu com o amigo de viagem de Bia.

Besitos

ana.carolina disse...

Gostei! Vou acompanhar.

Bjs, Nina

Mαri J. disse...

é para fazer um comentario COnjunto ou para mentir?rs

Adorei o conto..todos temos um pouco de Bia e um Max em nossas vidas.As vezes as pessoas aparecem do nada quando mais precisamos,e se vão do mesmo jeito que chegaram.. as marcas que elas deixm sao pra sempre!



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