05 fevereiro 2010

Cadarço

Saberia dizer mais de uma vez o que se passa na cabeça de milhões de pessoas mas não o que se passa em sua própria. Sentia falta de não saber como ser doce com os seus próprios sentimentos. Queria entender porque o dos outros lhe parecia tão belo, ingênuo e colorido quando o seu era só mais uma forma estranhada de se sabotar e se esconder atrás daquilo que nunca soube dizer exatamente o que era. Era feito de pedra ou era feito de apostas.

Contava os dias que não esperava nada ao seu redor: ônibus, carinho, solidão... "Era mesmo feito de pedra" pensava ele. Amigo era aquele que estivesse disposto a contrariá-lo infinitamente a ponto de cortar laços. "Laços feitos de apostas"

Laços, algo que não sabia dar, mas sabia desfazer. Engraçado como sobre um pé pode haver tantas metáforas e não ajudar a entender como tirar o fedor do suor de se estar tanto tempo fechado com seus fungos.

Fungos, isso sabia cultivar. Usava contra os outros sim, mas já tinha tanto em volta que era contaminado e causava em si tanto dano como tal. Era pra ser defesa, mas era agora sua única forma de tocar.

O mais belo dos sentimentos não podia nascer em si. Era proibido, seria vendido e de quem iria comprar? Tinha tanta boca, tanta sombra que o sol lá fora doia não só os seus olhos mas a sua alma pela falta do que não tinha. Era feito de livros, filmes e solidão. Tinha medo do cobertor.

Certa feita foi abatido como presa fácil. Nunca mais vontara pela mesma rua, ônibus, escada... todos passavam pelo mesmo lugar e tudo era agora tão pequeno que ele teria que se acostumar a trocar espaço com uma bomba relógio. A cada dia sentia mais medo, mais dor, mais do que a bomba poderia em vida causar. Pois essa era a sua cina, sofrer o máximo que pudesse.

Estava sendo muito bem sucedido quando se viu traído pelos seus fungos. O mofo começava a ganhar cores diferentes, o que era sombra virou aliada. Aliada contra si mesmo. Tentando voltar a ser como era, voltar as horas do relógio-bomba. Mas já era tarde demais, algo tinha acontecido e sobre todos os seus pés e falsos cognatos, um mar de dúvidas inundou sua colheita defensora. Um profundo sentir, furtivo aos olhos de um atendo demais. Nascia em si então o que o seu delírio antes costumava chamar de cegueira.

1 co-mentários:

Mαri J. disse...

Eu por acaso senti um q de 'post sobre mim mesmo'?



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