20 abril 2008

Com versos a conversar



Sem você do meu lado eu me tomo a perguntar
coisas que aconteciam antes de você chegar
perguntas sem parar de um medroso a testemunhar
mais um belo olhar, mais um tolo a sonhar

E com você do meu lado eu não consigo perguntar
porque todas as respostas já vem antes do questionar
e tudo se resume no que não ouso pronunciar

O medroso vive me dizendo que não devo me importar
mas só o que faço é me deixar levar e replicar
e não parar de conjugar
nesse tempo que nunca vai parar
porque o que sinto não é de hoje
não é passado e nem trocado
É natural, é infinitivo!

12 abril 2008

Inversos



Sinto que não minto quando tomo do seu vinho tinto
Deito no leito do seu peito de qualquer jeito feito feto
Mas é por um triz, quase faz uma cicatriz no meu nariz
Que desse sonho enfadonho não me recomponho
Pois poucas são as roupas das loucas
Nos encontros tontos de contos sem pontos

05 abril 2008

Meio dobrado entre nós



Queria escrever um bocado
escrevi dobrado
dobrado num quarto
metade de um meio
meio sem nada
meio que num é quarto

Mas cá entre nós
cai entre nós
quando troco as palavras
e o troco do sentido
é sentido que mente
e a mente prega peça
mesmo que eu não peça.

26 março 2008

Previsão do tempo



Tempo pra escrever
Tempo pra pensar
Tempo pra contar
Tempo pra esquecer

Tempo de colher
Tempo de saber
Tempo certo
Tempo errado
Tempo perto
Temperado
Nublado
Tempos atrás

17 março 2008

Livro de cabeceira


Foto: Murilo Martins

Ainda fechada você se mostra
Na capa: dura, sem adornos
Uma orelha que tem resumo duvidoso
Mas ainda sim, é o que mais gosto

Eu tenho você antes de durmir
muito embora já tenha lido sua introdução
Me pego lendo-a como se fosse a primeira vez
Pois sempre me faz feliz lembrar o que atraiu

Livro aberto, momentos de beleza
Outros de tristeza
Capítulos inesquecíveis
Sonetos inaudíveis

Adio os finais com o coração a mil
Leio cada frase como se minha vida dependesse disso
E nada mais é estranho
Deixo os novos parágrafos pro dia seguinte
Porque essa noite seu pedacinho meu já rendeu outro sonho

09 março 2008

Prazo de validade



Te encontrei numa prateleira de supermercado
Uma embalagem meio sujinha, uma marca desconhecida
Validade apagada e data de fabricação suspeita
Meio sem dinheiro resolvi te colocar no carrinho

Mesmo assim eu te levei pra casa
Escondi no meu armário entre outras embalagens antigas
Mas toda vez que eu abria, você se destacava
E deste modo eu esperei a ocasião especial



Luz de velas, cheiro de massa
O aguardo do momento


Lá vem ela
O perfume vence a massa
O sorriso vence a vela

Com cuidado eu te tirei
Com cuidado eu te abri
Só me dei conta do quanto passou
Quando seu prazo eu descobri
Um encontro esperado
Esperado até demais

02 março 2008

drama




Sempre tem gente chegando e saindo e aqui dentro não há mais espaço pra você. Por mais que um dia tenha sido, agora não sei nem mais como é o seu cheiro, menos ainda como é você hoje. É um mural do passado que eu ostento. É um corpo nú que há tempos se mostra mais do que vestido pra mim, pra não dizer inexistente.

Tem um preço pra isso, eu sei, tudo tem. Mas agora foi paga a última parcela e não estou interessado em nenhuma forma de garantia.

27 fevereiro 2008

Perda insolúvel



Num cômodo o artista
no ladrão, malabarista
no fundo uma lembrança
na frente a esperança

Foi dos queridos a mais querida
sempre dotada dos meus acessórios
e, como se não bastasse, agora ferida
tratada sem cuidado e remédios simplórios

Um traço de mim
um braço sem ombro
um colo que abafa
meu perdiz no escombro

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Patrocínio: [Divina Comédia]

06 fevereiro 2008

Promessa de rodapé



Vamos fazer uma lista
pode ser uma coisa mista
Uma em cada listra
Do título ao rodapé
(Só você sabe o que é)
De tudo que se quer
Vamos, não posso esquecer...

Fiquei de me organizar
Mas até agora só azar
E essa lista que não começa?
Vou fazer uma promessa:
Nunca mais invento uma coisa dessa.

27 janeiro 2008

Conjugação



Seria silêncio se não fosse a sua palavra
Seria culpa se não tentasse
Seria belo se não fosse o rancor
Seria pretensão se não fosse a sinceridade
Seria fome se não fosse a vontade
Seria pouco se não fosse a luta
Seria amor se não fosse o compromisso
Seria aquilo se não fosse isso
Seria programado se não fosse especial
Seria triste se não fosse real
Seria pela metade se não fosse você
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23 janeiro 2008

No meio do devaneio



...Sobretudo eu ainda penso que estou no controle, mas que controle será esse? Depois de um punhado de momentos desesperados e fraquejados eu insisto em me questionar sobre tal poder.
Talvez eu esteja pensando em me enganar, mas quando será que isso foi decidido que eu não participei? Olha eu ai de novo, acho que é instintivo, só pode.
- Ok, eu não estou no controle, tá bom assim?
- Tudo bem, mas eu também não perguntei nada!
- Engraçado como daqui de cima eu vejo tudo com mais clareza...

20 dezembro 2007

Sem posição



Talvez eu não escreva mais por não ter nada a dizer
Talvez eu ainda queira um pedido informal
Talvez um talvez não me livre de todo o mal
Talvez o medo de te perder me tome o prazer

Digamos que seja tudo isso
E que você não leve em conta
Digamos que veja encanto
Mas não compromisso

Quisera eu tirar o amargo de seu coração
(Que vem como a maré pra te levar a mais um final
Junto com piratas e seu arsenal)
E provar a doce maldição

Pode ser que a conta não esteja certa
Pode ser que o tempo não mereça muito
Quero ver se o seu sorriso
Me faz ter você comigo

28 novembro 2007

Enquete







Só eu sei o quanto eu já escrevi e quanto apaguei
Palavras bonitas, sortidas, histórias que nem eram minhas
E o quanto fazer delas melhor eu tentei
Registrando assim o que era eu em algumas linhas

Mesmo assim muito já foi registrado
E fico pensando se é o suficiente
O que é que pensam toda essa gente
Que levam minhas palavras ditas de bom grado

Querendo descobrir este fato
aos anônimos agradeço o descaso
e aos de diária consulta
Deixo no ar a pergunta

24 novembro 2007

Sem fuso, confuso



Minto se digo que não te amo
Digo se finjo pra não te machucar
Finjo que não me importo
E me importo pro seu mundo de açúcar

Estupidez querer ser o mais forte
Quando você me ganha com um beijo
Insensatez de buscar um norte
Quando é de medo que eu me queixo

Era uma vez no dia
Era tudo que eu queria
Era a minha cura
Fruta madura
Fruta mordida

22 novembro 2007

Vago




Talvez eu complete a sua frase, faça mil drinques com suas as lágrimas
E ai sim, caso encontrasse o que sentem todas as grávidas
Eu seria o que sou sem ter o que você é
Pois eu não aprendo a lição, não tenho livro e nem levo dever-de-casa.

Procuro dentro de você algo que faça sentido pra mim
Vago no seu mundo tentando morar em algum lugar
E só o que faz sentido é a saída, o fim
"Acorda meu amor, já é hora e levantar"

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Patrocínio: "Parte 2", "A Canção Pobre"

07 novembro 2007

Cinzas de um sorriso



Queria não saber o que há por trás desse seu sorriso de sempre
Dividir o mesmo lugar e não sentir nada do que tudo em mim quer
Não pensar que por onde quer que eu vá vou levar você
Não juntar pra depois separar

Mesmo assim há insistência, pra variar
De pôr à prova o prazer
Da vida que só faz me contrariar
Pois eu escrevo pra quem nunca vai ler


30 outubro 2007

Janela



Imprimi amigos
Esvaziei a lixeira
Comprimi o passado
Baixei o novo [o nível]
Programei o futuro
Abri uma janela
Queimei os arquivos
E então salvei a minha vida.

24 outubro 2007

Só pra irritar eu nego!



Só pra irritar deixo um sapo na sala
Te observo enquanto comes
Não faço juras
Conto tudo para os outros
Aponto seu erro
Desaponto suas expectativas
Canto música sertaneja
Não ligo
Ligo
Interrompo
Mudo suas idéias
Durmo antes
Fecho a cara
Faço de conta que você não existe
Nego seu expresso
Te estresso
Peço a conta
Te deixo esperando
E se algum dia você perceber o motivo de tudo isso
Eu nego!

18 outubro 2007

Plano 2



Não tenho mais cartas do outro eu
Nem promessa sei se ficou
Separados, cada qual para um canto
Um de pássaro outro de dor

Sou responsável pela parte que me coube do plano
Continuo com ele e por isso quero seu bem
Pois te dei a metade mais querida e sonhadora

Não conto mais os dias
Não quero esquecer
Do seu lado poesia
Do meu lado dever

Do remetente

Salvei o meu dia com o seu sorriso
Gravei um disco com o seu nome
Pintei meu muro com o seu rosto
Comi quando estava com fome

Antes da arte vinha você
Sair do parque, pra quê?
Praticar palavras soltas
Criticar as formas tontas
Se alegrar com as contas
Provocar as pombas

É claro que não passaria em branco
Não é fato que eu não tinha tanto
E é de fama que você vive em mim
É de cama que eu preciso sim
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Patrocínio: my last goodbye ([Divina Comédia])



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