14 maio 2012
Não sabia nada do agora
É muito tempo, é tempo demais
Futuro que não volta atrás
É briga com o que já não pode mais
É menino solto
(Sabe-se lá)
É caminho certo
Pra quem nunca está
Ou se era ou será
Sabiá
Nade agora
Só tem asa pra voar?
Nem quando nem com quem
É muito tempo, faz tempo
É fruto que não cai
É um tudo que já não me atrai
É menino solto
(Sabe-se lá)
É caminho certo
Pra quem nunca está
Ou se era ou será
O nunca é confortável
Sempre, detestável
Repita aquela prece
Ande, se apresse
Nem quando nem com quem
É menino solto
É muito tempo, é tempo demais
É rio que não acaba mais
03 maio 2012
Desatino
Alimento sem nome
Engasgado, comendo nós
Existe resposta quando estamos a sós?
Tão raro, tão caro
Se não se paga adiantado, a vista
Se paga a prazo, pro infinito
Mas se paga
Ele mesmo não sabia o que era
Se ilha ou se quimera
Se no pico ou se na cratera
Sem planos, sem esferas
Sem fome
Cheio de nome
Se não é aquele que some
É o que consome
É contradito, o maldito
Inventa notas sem se notar
Adota uma postura
Exposta para atacar
Engasgado, comendo a sós
Existe resposta entre nós?
Cheio nota
Cheio de dó
Cheio de si
Cheio de tudo
Cheio de nada
Cheio da sobra de ser camarada
23 abril 2012
Vaga
Aqui tem vaga
É uma vaga vaga
que vaga
devagar...desocupada.
Devagar e sempre
De uma estação a outra
A divagar qual seria sua sina
Que na escola ninguém ensina.
Ela tem requisitos
Mitos e metas
Tamanho e tempo disponível
Ou seja, exigências.
Exige e cobra
Por isso segue vaga
Ocupa uma falta de existência
Existe na ausência
O vazio é necessário
Um nada que dá seu lugar
Um quarto vago, querendo se ocupar.
16 março 2012
Pra fora
Vem de dentro, vem de fora
Choro engasgado, choro enroscado
Corre como rio, corre e socorre
Ele tinha ido embora a muito tempo
[sem dar adeus]
Agora eu sei onde ele mora
[mora dentro de mim]
Choro torto, choro senil
Chora menino... chora rio que vira mar
Sorria garoto, vá amar
A vida fica entre poros, cicatrizes
A vida chora em forma de atrizes
[Única forma de autenticidade]
Chora homem, chora sonho velado
Do engasgo, do nó, veio a tosse
Veio tudo de uma vez só
Era respiro, era lágrima
Era alívio, era magma
Vulcão que entra em erupção
Saudade, raiva e alegria
Vontade de negar a negação
Chora homem, chora menino
Chora rio, chora brio
Sai pra encontrar seu mundo
Deixe esse espaço um pouco mais profundo
Vá-se embora pra voltar
Pois aqui, dentro de mim
Terá sempre seu lugar
14 março 2012
Um a menos
Não crio um buraco só pra me sentir vazio
Não me castigo por ter sido feliz
Não me calo quando era pra ter dito
Melhor ser aberto que interdito.
O pensa-dor
Nada batia, era pra ter um tamanho, seja grande ou pequeno, mas não tinha. Quer dizer, tinha, mas isso não importava. Agora você vai pensar que eu contei aquela história anterior a troco de nada. Bem, sinto lhe dizer, mas só você pode responder isso. Pois bem, era difícil de definir. Ora, como não podia ter um tamanho? - Precisa-se de uma régua, urgente! - Definir faz parte, sem isso eu me perco.
Perdido, era a palavra: Aquele que tenta se achar. Veio atrás de um tamanho, uma régua e uma definição. Coitado, agora sem ter aonde escorar, nem tem o que engolir. Bem feito.
Feito barata tonta ele juntava migalhas a fim de afixar um marco, uma origem [mas barata não faz isso, mas foi feito]. Criara um lugar conhecido e dele fez-se achar.
Acho até que conseguiu, mas tamanha era sua angustia em juntar, que o tamanho foi esquecido. A angústia agora era um problema maior do que a definição de antes. Pelo menos estava definido: angústia, decepção, baixa-estima, tudo tinha um nome, foi achado. As migalhas ainda estavam lá, fazendo boa parte da nova decoração do lugar. Era seu.
Seu conforto foi moldado. Era uma espécie de consolo, raiva. Agora nem tudo devia ser visto, esmagado ou apoiado. Havia choro. Ele já não sabia porque estava ali. Se tivesse saido Dali antes, talvez não fosse preciso criar nada. Seu problema, pensou, "foram as migalhas". Seu erro: ter esquecido.
04 março 2012
Feitiço
Amador amuado
Adorador agorado
Um odor adormecido
Um amor amordaçado
Um tecido retirado
Era só um ter sido
Assim
Enquanto era o outro
Assado
Feito isso
Enfeitiçado
15 fevereiro 2012
Sommelier
Concede e sente
Um contato
Contente
E o tinto ele consome
E some
Busca uma soma
Que tome, que lhe tenha
(E não se atenha)
Contenha... um tema
E que tema!
Que erros cometa
Que seja
Mais que um cometa
Que fique, indique
Que dê uma dica
Que abdique do dique
Que solte as amarras
Essa busca..
E esse busca também
Só que não sabe bem
Se é a falta do tinto ou se de alguém
Sobra o tinto
Dele se pode provar
02 fevereiro 2012
"Age Homem"
Quando você retorna pra si
Enxerga tudo diferente
Novamente
Sente um pouco de frio
Um vazio, mas um vazio muito querido
Um vazio que te faz recordar
Desapegar
Era outro destino que você via
Era outra semente que seria plantada
E agora é só você, afinal
Nada mal
Pouco tempo atrás seria lamento
Seria dor, sem argumento
Agora tudo é possível
Audível
Seus ouvidos estão voltados para dentro
Sua energia, força, recarregadas
Foi preciso viver a tempestade
Agora, saudade
Saudade sem dor
Apenas talvez, vaidade
Se sentir pela metade
Metade que não se tem mais
27 janeiro 2012
Ata dura
Estremece quando envelhece, acontece
Então evita fadiga (não diga)
Tem uma cria, cantiga
Vira monstro pra fazer de conta
Abre o peito pra trocar o conceito
Pensa de novo pra pensar direito
Hoje a gente não esquece mais
Sabe que não pode olhar pra trás
Mas também não sabe obedecer
Aquele que nos ensina a não entristecer
- Parece tortura, desaparece!
Ô calo doído que não apetece
Faz trocar de sapato de tão chato
Vai ver nem é calo, é carrapato
30 dezembro 2011
Ex-quesito
Quando o mundo vai voltar a ficar do tamanho dos seus olhos?
Qual a fração do meu corpo que não clama pelo seu?
Quantas vezes eu preciso tentar te esquecer pra lembrar que sou péssimo nisso?
Elementar
Faltavam aqueles olhos a te observar
Segurar cada pedaço de céu seu caido no mar
Virar o barco e te afogar
Ter de novo um lugar reservado pro seu par
Era de olhos bem abertos que ela se perguntava
Se de novo aquele caminho de antes veria sua amada
Era com o medo, e com a falta que o fogo se alimentava
Hoje a noite seria de calor... e amor
Pare pra pensar e você irá vê-la flutuar... de longe
Não pense e estará como ela, solta no ar
O que é ela eu não sei
Mas me faz respirar
05 dezembro 2011
Destrutível
Morte um consorte, um corte, má sorte
Tida, a batida, abatida, abate, habita, habitat
Fóssil, ócio, se fosse fácil, dócil
Laços escaços, falsos aços, traços, tratos, pratos... porcelana.
26 novembro 2011
Se quiser
Feito a 4 mãos
Que assei no seu fogão
Só aceita uma ilusão
Se tiver
Sua colher
Se tiver
Uma palavra sequer
Que saída da sua boca
Peça para ser minha mulher
Olhos
Seu lugar sempre tinha sido o da platéia, mas mal percebia que ele também era o protagonista de um espetáculo tão grande quanto aquele que assistia. Achava que usava um disfarce a vida toda, mas ali estava aquela que via tanto o show como o que estava por de trás das cortinas.
Havia um misto de sentimentos, movimentos. Ela, sem perceber também, ao se inibir dava a ele todo o holofote que ele queria.
Dois contrários se igualando. Tudo era novo, mas tinha um quê de déjà vu, só que não com eles. Livros, histórias, contos, músicas, poesias descreviam o que só agora fazia sentido. Era o silêncio. Silêncio que trazia a calma de quem encontra aquilo que estava procurando. O alívio.
Não era mais preciso procurar, agora boa parte de suas energias se focavam em entender essa coisa diferente.
E é claro que tudo tem um fim.
Mas talvez não seja uma despedida, talvez seja parte da dança. O segundo ato, o terceiro ato... até que as luzes se acendam.
A platéia nunca mais olhou pro mundo lá fora da mesma maneira que antes. É tudo uma mentira que promove a verdade. É a fantasia que permite a realidade.
18 novembro 2011
Silêncio
E o nada veio de remo
Remoendo a dor a nado
Nadando pra morrer na praia
Se afogando pra vida parecer mais... merecida, meretriz.
14 novembro 2011
A pergunta
Você, experto que é, cria outras esperando que a primeira vá embora. Tolo. Busca resposta pra trair a nossa anônima. E ela revida, gosta de viver sem aliado. Insolúvel, insensível, insaciável. Abraça com força e toma de assalto os desavisados. É a questão que gosta de ficar aberta. Porque maior que a certeza é dúvida...será?
01 novembro 2011
Perdido
Eu inventei um mundo pra ficar menos só
Inventei um gosto que é fácil de saciar
Tornei o açúcar algo difícil de se contrariar
Me perco só pra ninguém me localizar
E se o fazem, melhor me afastar
Porque se nem eu me acho, como pode outro alguém se aventurar?
09 outubro 2011
Ego
- Oi.
- Não sabia que estava aí, o que estás fazendo?
- Ainda não sei, talvez esperando ordens.
- De quem?
- Suas.
- Minhas? Como assim? Porque eu haveria de lhe dar ordens?
- Admite que não as quer me dar?
- ...
- ...
- Eu odeio sua sinceridade.
- Mas gosta de mim ainda sim?
- Gosto.
- Gosta quando obedeço?
- Não e sim. Eu gosto quando obedece, mas por opção.
- Eu não tenho opção. Mas posso arrumar algumas, se é de seu querer. Mas ainda sim, uma única opção, continua sendo opção.
- Por que faz isso?
- Por que gosto de você.
- Gosta de me obedecer?
- Sim e não. Eu gosto de te obedecer quando isso me parece a única opção, não por eu querer, mas por ser aquilo, só aquilo, e nada mais.
04 outubro 2011
Euréka
Queria não poder ver de perto a distância que nos separa
Mas existem certos momentos que a gente precisa ser aquilo que não é para se tornar aquilo que quer ser
E eu hoje sou
Mas você ainda não é.
Então só me resta esperar (ou não) que você não seja você mesma, apenas por um dia, pois assim, quem sabe, você seja minha... para sempre.

