09 julho 2013

Vinho tinto

Alguns passos na minha direção
Demonstro minha aflição
De um cara que não sabe falar
De uma mente que não quer calar

Sobre-humano a disputa interna
De querer contar todos os segredos de cara
De esquecer a parte da conquista
E partir pro amor à primeira vista

É claro que nada disso vem fácil
Seria muito estranho se não fosse dócil
[No começo]
Mas parece que tudo só espera
[O meu tropeço]

Ele tenta me embriagar
Me tirar do controle pra me controlar
Abrir uma janela
Respirar
Agora eu sinto
Não, minto, não sinto
Deve ser o vinho tinto

De onde eu tiro tanta conclusão?
Talvez eu esteja saindo da minha direção
Não faço mais sentido
Agora eu sinto
Não, minto, não sinto
Deve-se ao vinho tinto

Acabo de me lembrar
Que a dúvida é pra dialogar
Então fique com a minha pergunta
A quem você quer enganar?
Sinto muito
Minto, não sinto
Deve ser o vinho tinto

Era pra ser uma mentira
De quem só faz por brincadeira
No intuito de que de alguma maneira
Sua mente descubra que nunca caíra
Nessa besteira
Queria tanto... minto, não queria
Era só mais um vinho tinto.

28 maio 2013

O Castelo e o dragão

Adote um dote
Denote
Note
Que a nota que agora anotas não é musical
e nem era pra ser
Era mesmo pra ninguém ler
E se entreter

Tu não anotas porque não tem o que notar
Sua atenção é virada, desvairada
Se a presta, empresta e nunca mais a tem de volta
Corre por ai a solta
Sem escolta

Olhe
Vem vindo alguém
Será que sabe como ir além?
E se não souber, o que é que tem?
Você aprende
...
Ah não, não é ninguém!
...
(Amém)

21 maio 2013

Ar alto, raro efeito

As vezes é um mero trocadilho
Que me vem de encontro
Talvez um empecilho
Meio assim, meio de canto

É um solavanco
Que me tira do compasso
As vezes nem me tento
As vezes nem me acho

É um suspiro desacordado
Pra me desequilibrar
Porque sabe que meu adorno é dissimular

Daí então eu me pergunto:
Com quem mesmo que eu me pareço?
Com a apatia de antes ou com o desinteresse de agora?
Sou apostas de que um dia vou perder
Sou pergunta nunca querendo responder
Então, que seja declarada a paz
Os dois lados se rendem
E todos perdem para poder ganhar
Uma mesmice disfarçada de sossego
Uma voz do que todos querem
Que entra pra ensaiar o desapego
Faz o que ninguém você faria
Ela não tem nome ou identidade
Mas atende por democracia

29 abril 2013

Coma

Talvez o mundo ainda seja do jeito que eu lembrava
Talvez a lembrança ainda seja do mundo do mesmo jeito
Talvez o mundo seja lembrado do mesmo jeito que eu lembro
Talvez o jeito seja ter mundo ainda na lembrança
Talvez o mundo ainda lembre do seu jeito
Talvez não haja jeito
Nem lembrança
Nem mundo
Só existe a dúvida

25 abril 2013

Fantasma

Sou um grito
Sou um sopro
Eu nunca amito
Eu nunca sofro

Abro minha mente
Pra todo tipo de gente
Desvirtuo a razão
Pra uma lógica menos inteligente

Quem sabe assim não me distraio
Com outras vertentes?
Quem sabe assim não me distraio
Com outra gente carente?

Fico com a dúvida por ela não tem fim
Escolho uma saída, mas não saio
Quero saber o que ganho se ficar..
[Observando de soslaio]
Penso que fazendo assim
Sou menos aparente
Pena que eu sempre esqueço
Que sou fantasma transparente

11 dezembro 2012

Economista

Abreviando a vida
Falando só o necessário
Sendo direto, focado
Enforcado, forçado a economizar
Economista do nada
Reduzindo o custo, a que custo?
"Nada é de graça!"
Prevê o susto, sem graça
Abraça a massa sendo só
Sente falta da taça, do vinho, do desperdício
Mora em seu próprio hospício
Sem auspício
Mudo em seu palanque
Exigindo platéia pro seu comício
Sem desperdício, só o necessário
Sério, sem fala, salafrário

Mal interpretado, apertado, abreviado
"Falta de consciência
Vai à falência"
Desse jeito vai acabar
Não pode usar
Vamos ponderar, reduzir
Evita, guarda pra si
Economista, de nada
Obrigado a regular
Manter a manada
Segurar a onda
Repensar, aguardar

Perdeu tanto guardando que aguarda a eternidade pra não ter que perdoar.

07 novembro 2012

Acorde musical

Ah, a música
Te teletransporta
Abre uma porta
E se aporta

Fica e evanesce
Com outro sentido
Sem ter tido
Pra si
Entretido
Pra ti... Comportar
Abortar a realidade
Ter saudade
Da maldade de criança
Esperança
Nada que não se possa ter
Amadurecer
Amanhecer... acorde.

22 outubro 2012

Olá, tem alguém ai?

...Daí então você aprende, passa a vida aprendendo e morre sem saber. Quer encontrar a desgraça em forma de felicidade pra poder se dizer digno e ao mesmo tempo merecedor. Era pra ser inteligente, mas agora só conta um passado remoto de condecorações que não lhe servem pra mais nada. O mundo é assim: Você sabe que vão te cortar em pedaços, mas paga pra ver e passa a maior parte do tempo tentando recolher o que sobrou de ti, mesmo sabendo que conseguirá no máximo ser agora um Frankenstein. Você está vivo, mas carrega dentro de si um abajur que pisca dizendo que ainda funciona, só que você sempre liga ele em 220V quando o coitado já nem 110V aguenta mais.
Você abre uma brecha pra poder deixar o ar lá de fora entrar, com medo de entrar demais e esfriar a lareira que agora só é brasa morna. Você ainda consegue fazer o sorriso da Monalisa achando que pertencerá a um grupo que nem mesmo existe e que mesmo assim não quer você.
Era pra soar melancólico sem nexo, mas infelizmente você se vê nessa sangria. Era pra ter sido passado, mas ninguém o quer, ...embrulhe-se pra presente.
Era pra ter sido abatido a muitos anos atrás, junto com a manada que pertencia, mas foi arredio e fugiu e olha no que deu! ...agora quer voltar.
Anime-se, vá! Se fosse verdade você está no lucro, e você não está, ou está? Logo se lembrará que tudo isso não passa de umas palavras mal escritas e que tudo deve ser mentira, provavelmente.

19 outubro 2012

Eu tenho pena

Eu tenho pena dos que saem a noite sem rumo
Tenho pena porque só elas sabem do que estou falando
Tenho pena do escuro, porque, é claro, ninguém o vê
Tenho pena da luz, porque esconde a fonte
Tenho pena dos desiludidos pelo amor
Tenho pena da moça que só tira a roupa porque sente calor

Eu tenho pena da família do suicida
Tenho pena da carne moída
Tenho pena do rei no castelo, da côrte e da nobreza
Tenho pena da lei do martelo, da sorte e da lerdeza
Tenho pena daqueles que dependem da mesma
Tenho pena dos que esperam
Tenho pena dos que perdem tempo
Tenho pena dos que cuidam
Tenho pena dos que guardam rancor
Tenho pena de mim e quem mais for

Tenho tanta pena que não me esqueço quem eu sou
Sou uma ave que de tanta pena não sabe levantar voo

17 outubro 2012

João bobo

Deixa eu fingir com você
Deixa eu fingir que somos unidos, que temos conexão
Deixa eu fingir que temos uma vida normal, que temos algo em comum
Deixa eu fingir que o nosso futuro é promissor, desejado por qualquer um

Vamos fingir que não temos nenhum contrato social, contrariando a realidade
Vamos fingir que de vez em quando sentimos saudade
Vamos diminuir a intensidade da luz para fingir que temos interesse no que não estamos vendo
Vamos fingir que temos, mesmo não tendo
Vamos amaciar a carne e comê-la crua
Vamos fingir que essa carne é minha e não sua
Vamos amolecer os corações dos outros amantes com nossos beijos
Vamos fingir que esses beijos são músicas com lindos arpejos

Eu preciso fingir que dizer é não mentir
Eu preciso dizer que fingir é como não sentir
Eu preciso agora dizer que eu sinto, sinto muito
E eu preciso dizer que eu fingi o tempo todo
Eu te amo, foi tudo um engano
Era pra ser uma brincadeira, eu sou um bobo... seu bobo.

14 outubro 2012

Triste fim da bolsa de valores

Adalberto vestiu seu jaleco xadrez e colocou seu chapéu e todos os apetrechos que lhe eram exigidos para sua tarefa, estava pronto para mais um dia.
Era muito rico e por isso distribuía o que tinha de mais precioso aos outros, não importasse quem. Assim ele recebia de volta muito mais do que entregara, e guardava para si. E com isso ele juntava uma fortuna que todos os dias a noite ele as trazia novamente na cama, antes de dormir, e ficava admirando sua riqueza... É fato que no final do dia toda ela era utilizada e era necessário juntar mais o mesmo montante, pelo menos, no dia seguinte. Seu bem era perecível, sua riqueza não podia ser acumulada.

A casa de Adalberto também era muito rica, obviamente, e era muito visitada pelas pessoas que compravam os serviços de seu dono, que vale aqui salientar, sempre fez questão de nunca cobrar por isso.

Se passaram alguns anos e o nosso protagonista se viu em uma situação difícil de lidar. Algumas pessoas não queriam mais a sua riqueza de graça e preferiam a miséria, coisa que ele não conseguia entender. Ele não teve escolha a não ser cobrar para que ela fosse entregue, uma vez que agora sim as pessoas permitiam, pois era a nova forma de se distribuir o que se tinha. Era preciso cobrar antes para depois entregar. Chamavam de troca.

A troca por um momento fez seu papel e parecia ser realmente a reinvenção da forma como Adalberto lidava com suas riquezas, e não só dele como a de todo o mundo. O fato é que nada mais era feito sem troca. Tudo era cobrado e antecipadamente, mesmo sem ter nada para distribuir as pessoas cobravam. A cobrança já era feita sem medida alguma, ao ponto que os bens foram se esvaindo e só sobraram as contas, as dívidas e a miséria generalizada. Adalberto não conseguia mais doar sua fortuna porque diziam não poderem mais pagar por ela.

A riqueza era a alegria, o sorriso, um abraço, um olhar... uma cia.

04 setembro 2012

Visão turva

Desarrumava as palavras pra ele não poder ver o que estava por trás daquele amontoado de nada
Amontoada, queria não estar naquela toada, queria deixar de ser e estar para permanecer, ficar
Era saliva molhada no nada querendo ser ladra e roubada pra poder voar que nem um avião
E sua mão, arteira na arte de não se conter em um lugar e ir na contramão, queria um abrigo
Era pra ser um amigo, dizia a cabeça pesada envolta por um Sebastião qualquer
[Que faz sua mente presente ficar mais distante querendo um malmequer]
Mas ela sabia que fazia um tempo que ele sabia o que ela fazia pra ele não saber

Ele sabia tocar uma música ali dentro da sala acústica dela
Era pra ser só um show, mas ficou
Ecoando como ondas do mar
Quebrando seus paradigmas, de dentro pra fora
E fora que toda vez que ela ouvia as ondas dava vontade de dançar
Era pra ser só um som devagar, mas divagou
Não dava pra voltar atrás, ficou profundo demais
Ondas quebrando no cais

E então, ela arrumou as palavras certas e as erradas de uma só vez, tornando-as em silêncio. Só então ele pôde escutá-la e ela a si mesma também.

26 agosto 2012

Floresta sem arestas

Está longe, está muito longe do seu curso normal das coisas. Ele se viu entre animais e vegetação nunca antes explorada. Era pra ser intrigante, mas ele não sabia que ali podia se esconder um grande inimigo, o desconhecido.
Muitas pessoas diziam pra ele que o desconhecido podia ser algo que trouxesse esperança, motivação... mas ele é piegas e sabe muito bem o que aquilo que ele não conhece pode significar pra ele.
Essas pessoas comem coisas diferentes e dizem a todo momento o quanto estão felizes e como a comida está saborosa. Ele nunca antes precisou dizer o quanto estava feliz pra se sentir feliz, mas parece que agora nessa floresta negra ele precisa se expressar. Pôr pra fora para só então sentir o que há por dentro.
Era muita coisa nova, cada passa era observado por aqueles que não tinham com o que se ocupar. Sua vida era controlada para que não saísse do combinado, pois senão iriam colocá-lo no canto como se fosse um doente... e talvez até o fosse, visto que essa floresta a cada dia que passava parecia mais e mais o lugar mais perfeito do mundo, segundo milhares de cartazes, frases e discursos aclamados todos os dias.
Era um mar de gente que sabia a hora exata de se fazer amigos, a hora exata para compartilhar emoções falsas, se martirizar por isso e no fim pagar alguém para que os diga que estão doentes e que precisam de ajuda contínua.
Ele não sabia se tudo isso se passava porque ele tinha errado o caminho lá trás ou se era uma questão de tempo.

- No fim tudo se resume ao espaço e tempo - disse ele, querendo com isso reduzir a repulsa que sentia.

Era uma época desconhecida, o futuro. Essa caminhada teve seu curso reduzido por conta de sua observação acerca da floresta. Na verdade não havia prisão, mas todos estavam muito próximos uns dos outros e isso era necessário segundo as regras. Era preciso interagir, era preciso compartilhar, mesmo que os resultados sempre terminassem sempre na decisão do mais influente.
Ele não entendia, o quanto era preciso para que eles entendessem que só se pode adicionar quanto se tem algo para tal.

- Todos temos algo? - questionou-se frente ao chamado.

Reunião de um bocado de gente
Desunião de suas crenças, se é que tinha
Abrasão do que era pontiagudo
Pra se ter tudo em linha
E se tornar um ser mudo

Abraçou o travesseiro da informação como fazia todas as noites, a fim de encontrar um pouco do que tinha deixado para trás. Era uma luta diária, tinha que ser luta.

Desde então sua floresta se tornou a floresta negra sem árvores, habitada por seres com seus mundos, apenas seus.

E ele ficou por lá até descobrir que a caminhada não mudou de curso e sim seu passo que se tornou mais curto.

14 maio 2012

Não sabia nada do agora

Nem quando nem com quem
É muito tempo, é tempo demais
Futuro que não volta atrás
É briga com o que já não pode mais

É menino solto
(Sabe-se lá)
É caminho certo
Pra quem nunca está
Ou se era ou será

Sabiá
Nade agora
Só tem asa pra voar?

Nem quando nem com quem
É muito tempo, faz tempo
É fruto que não cai
É um tudo que já não me atrai

É menino solto
(Sabe-se lá)
É caminho certo
Pra quem nunca está
Ou se era ou será

O nunca é confortável
Sempre, detestável
Repita aquela prece
Ande, se apresse

Nem quando nem com quem
É menino solto
É muito tempo, é tempo demais
É rio que não acaba mais

03 maio 2012

Desatino

Cheio de fome
Alimento sem nome
Engasgado, comendo nós
Existe resposta quando estamos a sós?

Tão raro, tão caro
Se não se paga adiantado, a vista
Se paga a prazo, pro infinito
Mas se paga

Ele mesmo não sabia o que era
Se ilha ou se quimera
Se no pico ou se na cratera
Sem planos, sem esferas

Sem fome
Cheio de nome
Se não é aquele que some
É o que consome

É contradito, o maldito
Inventa notas sem se notar
Adota uma postura
Exposta para atacar

Engasgado, comendo a sós
Existe resposta entre nós?

Cheio nota
Cheio de dó
Cheio de si
Cheio de tudo
Cheio de nada
Cheio da sobra de ser camarada

23 abril 2012

Vaga

Aqui tem vaga
É uma vaga vaga
que vaga
devagar...desocupada.

Devagar e sempre
De uma estação a outra
A divagar qual seria sua sina
Que na escola ninguém ensina.

Ela tem requisitos
Mitos e metas
Tamanho e tempo disponível
Ou seja, exigências.

Exige e cobra
Por isso segue vaga
Ocupa uma falta de existência
Existe na ausência

O vazio é necessário
Um nada que dá seu lugar
Um quarto vago, querendo se ocupar.

16 março 2012

Pra fora

E o choro vem bem forte
Vem de dentro, vem de fora
Choro engasgado, choro enroscado
Corre como rio, corre e socorre
Ele tinha ido embora a muito tempo
[sem dar adeus]
Agora eu sei onde ele mora
[mora dentro de mim]

Choro torto, choro senil
Chora menino... chora rio que vira mar
Sorria garoto, vá amar
A vida fica entre poros, cicatrizes
A vida chora em forma de atrizes
[Única forma de autenticidade]
Chora homem, chora sonho velado
Do engasgo, do nó, veio a tosse
Veio tudo de uma vez só
Era respiro, era lágrima
Era alívio, era magma
Vulcão que entra em erupção
Saudade, raiva e alegria
Vontade de negar a negação

Chora homem, chora menino
Chora rio, chora brio
Sai pra encontrar seu mundo
Deixe esse espaço um pouco mais profundo
Vá-se embora pra voltar
Pois aqui, dentro de mim
Terá sempre seu lugar

14 março 2012

Um a menos

Não compartilho da sua insensatez exacerbada
Não crio um buraco só pra me sentir vazio
Não me castigo por ter sido feliz
Não me calo quando era pra ter dito
Melhor ser aberto que interdito.

O pensa-dor

Quando é pequeno o suficiente a gente aperta, aperta até sumir, esmagando entre os dedos. Depois a gente engole o que sobrou, meio que de mal gosto como se fosse um ritual, uma oferenda, um sacrifício. Quando é grande a gente finge que não vê. Tal qual uma parede que fica sendo observada de rabo de olho. É só um apoio, não tem bem uma cor definida, uma forma. Não adianta bater, porque só vai doer em quem bate.

Nada batia, era pra ter um tamanho, seja grande ou pequeno, mas não tinha. Quer dizer, tinha, mas isso não importava. Agora você vai pensar que eu contei aquela história anterior a troco de nada. Bem, sinto lhe dizer, mas só você pode responder isso. Pois bem, era difícil de definir. Ora, como não podia ter um tamanho? - Precisa-se de uma régua, urgente! - Definir faz parte, sem isso eu me perco.

Perdido, era a palavra: Aquele que tenta se achar. Veio atrás de um tamanho, uma régua e uma definição. Coitado, agora sem ter aonde escorar, nem tem o que engolir. Bem feito.

Feito barata tonta ele juntava migalhas a fim de afixar um marco, uma origem [mas barata não faz isso, mas foi feito]. Criara um lugar conhecido e dele fez-se achar.

Acho até que conseguiu, mas tamanha era sua angustia em juntar, que o tamanho foi esquecido. A angústia agora era um problema maior do que a definição de antes. Pelo menos estava definido: angústia, decepção, baixa-estima, tudo tinha um nome, foi achado. As migalhas ainda estavam lá, fazendo boa parte da nova decoração do lugar. Era seu.

Seu conforto foi moldado. Era uma espécie de consolo, raiva. Agora nem tudo devia ser visto, esmagado ou apoiado. Havia choro. Ele já não sabia porque estava ali. Se tivesse saido Dali antes, talvez não fosse preciso criar nada. Seu problema, pensou, "foram as migalhas". Seu erro: ter esquecido.

04 março 2012

Feitiço


Amador amuado
Adorador agorado
Um odor adormecido
Um amor amordaçado
Um tecido retirado
Era só um ter sido
Assim
Enquanto era o outro
Assado
Feito isso
Enfeitiçado

15 fevereiro 2012

Sommelier

Com sede, consente
Concede e sente
Um contato
Contente
E o tinto ele consome
E some
Busca uma soma
Que tome, que lhe tenha
(E não se atenha)
Contenha... um tema
E que tema!
Que erros cometa
Que seja
Mais que um cometa
Que fique, indique
Que dê uma dica
Que abdique do dique
Que solte as amarras

Essa busca..
E esse busca também
Só que não sabe bem
Se é a falta do tinto ou se de alguém
Sobra o tinto
Dele se pode provar

02 fevereiro 2012

"Age Homem"

E é quando a alma acalma,
Quando você retorna pra si
Enxerga tudo diferente
Novamente

Sente um pouco de frio
Um vazio, mas um vazio muito querido
Um vazio que te faz recordar
Desapegar

Era outro destino que você via
Era outra semente que seria plantada
E agora é só você, afinal
Nada mal

Pouco tempo atrás seria lamento
Seria dor, sem argumento
Agora tudo é possível
Audível

Seus ouvidos estão voltados para dentro
Sua energia, força, recarregadas
Foi preciso viver a tempestade
Agora, saudade

Saudade sem dor
Apenas talvez, vaidade
Se sentir pela metade
Metade que não se tem mais

27 janeiro 2012

Ata dura

A gente se esquece quando se aquece
Estremece quando envelhece, acontece
Então evita fadiga (não diga)
Tem uma cria, cantiga
Vira monstro pra fazer de conta
Abre o peito pra trocar o conceito
Pensa de novo pra pensar direito

Hoje a gente não esquece mais
Sabe que não pode olhar pra trás
Mas também não sabe obedecer
Aquele que nos ensina a não entristecer

- Parece tortura, desaparece!
Ô calo doído que não apetece
Faz trocar de sapato de tão chato
Vai ver nem é calo, é carrapato

30 dezembro 2011

Ex-quesito

Quanto tempo vai demorar pra passar?
Quando o mundo vai voltar a ficar do tamanho dos seus olhos?
Qual a fração do meu corpo que não clama pelo seu?
Quantas vezes eu preciso tentar te esquecer pra lembrar que sou péssimo nisso?

Elementar


Faltavam aqueles olhos a te observar
Segurar cada pedaço de céu seu caido no mar
Virar o barco e te afogar
Ter de novo um lugar reservado pro seu par

Era de olhos bem abertos que ela se perguntava
Se de novo aquele caminho de antes veria sua amada
Era com o medo, e com a falta que o fogo se alimentava
Hoje a noite seria de calor... e amor

Pare pra pensar e você irá vê-la flutuar... de longe
Não pense e estará como ela, solta no ar
O que é ela eu não sei
Mas me faz respirar

05 dezembro 2011

Destrutível

Vida larga, alarga, a lagarta
Morte um consorte, um corte, má sorte
Tida, a batida, abatida, abate, habita, habitat
Fóssil, ócio, se fosse fácil, dócil
Laços escaços, falsos aços, traços, tratos, pratos... porcelana.

26 novembro 2011

Se quiser

Meu coração
Feito a 4 mãos
Que assei no seu fogão
Só aceita uma ilusão
Se tiver
Sua colher
Se tiver
Uma palavra sequer
Que saída da sua boca
Peça para ser minha mulher

Olhos

Olhos nos olhos, olhos atentos, movimentos. Tudo se transformou de uma hora pra outra em um espetáculo, uma dança de ballet. Ele não sabia muito bem pra onde olhar com mais atenção, só sabia que não podia perder o que estava acontecendo diante de si.

Seu lugar sempre tinha sido o da platéia, mas mal percebia que ele também era o protagonista de um espetáculo tão grande quanto aquele que assistia. Achava que usava um disfarce a vida toda, mas ali estava aquela que via tanto o show como o que estava por de trás das cortinas.

Havia um misto de sentimentos, movimentos. Ela, sem perceber também, ao se inibir dava a ele todo o holofote que ele queria.

Dois contrários se igualando. Tudo era novo, mas tinha um quê de déjà vu, só que não com eles. Livros, histórias, contos, músicas, poesias descreviam o que só agora fazia sentido. Era o silêncio. Silêncio que trazia a calma de quem encontra aquilo que estava procurando. O alívio.

Não era mais preciso procurar, agora boa parte de suas energias se focavam em entender essa coisa diferente.  

E é claro que tudo tem um fim.
Mas talvez não seja uma despedida, talvez seja parte da dança. O segundo ato, o terceiro ato... até que as luzes se acendam.

A platéia nunca mais olhou pro mundo lá fora da mesma maneira que antes. É tudo uma mentira que promove a verdade. É a fantasia que permite a realidade.

18 novembro 2011

Silêncio

E o nada veio de remo
Remoendo a dor a nado
Nadando pra morrer na praia
Se afogando pra vida parecer mais... merecida, meretriz.

14 novembro 2011

A pergunta

E ela vem pra tirar o sono. Vem pra te dar um rumo, um lugar, uma via, um altar. Ela que te joga pra frente, e muitas vezes pra baixo. E é só com ela que você descobre.

Você, experto que é, cria outras esperando que a primeira vá embora. Tolo. Busca resposta pra trair a nossa anônima. E ela revida, gosta de viver sem aliado. Insolúvel, insensível, insaciável. Abraça com força e toma de assalto os desavisados. É a questão que gosta de ficar aberta. Porque maior que a certeza é dúvida...será?

01 novembro 2011

Perdido

Eu inventei um mundo pra ficar menos só
Inventei um gosto que é fácil de saciar
Tornei o açúcar algo difícil de se contrariar
Me perco só pra ninguém me localizar
E se o fazem, melhor me afastar
Porque se nem eu me acho, como pode outro alguém se aventurar?

09 outubro 2011

Ego

- Oi Clarice - tentava ele se comunicar.
- Oi.
- Não sabia que estava aí, o que estás fazendo?
- Ainda não sei, talvez esperando ordens.
- De quem?
- Suas.
- Minhas? Como assim? Porque eu haveria de lhe dar ordens?
- Admite que não as quer me dar?
- ...
- ...
- Eu odeio sua sinceridade.
- Mas gosta de mim ainda sim?
- Gosto.
- Gosta quando obedeço?
- Não e sim. Eu gosto quando obedece, mas por opção.
- Eu não tenho opção. Mas posso arrumar algumas, se é de seu querer. Mas ainda sim, uma única opção, continua sendo opção.
- Por que faz isso?
- Por que gosto de você.
- Gosta de me obedecer?
- Sim e não. Eu gosto de te obedecer quando isso me parece a única opção, não por eu querer, mas por ser aquilo, só aquilo, e nada mais.

_______________________________________________________

...
- Quantas vezes tenho que te dizer que gosto de observar de longe?
- Uma só.
- Quantas vezes tenho que te dizer que gosto de observar de longe?
- Uma só.
- Quantas vezes tenho que te dizer que gosto de observar de longe?
- Uma só.
- Quantas vezes tenho que te dizer que gosto de observar de longe?
- Uma só.
- Quantas vezes tenho que te dizer que gosto de observar de longe?
- Uma só.
- Quantas vezes tenho que te dizer que gosto de observar de longe?
- Uma só.
- Quantas vezes tenho que te dizer que gosto de observar de longe?
- Uma só.
- Quantas vezes tenho que te dizer que gosto de observar de longe?
- Uma só.


04 outubro 2011

Euréka

Queria parecer ingênuo, incrédulo e secreto
Queria não poder ver de perto a distância que nos separa
Mas existem certos momentos que a gente precisa ser aquilo que não é para se tornar aquilo que quer ser
E eu hoje sou
Mas você ainda não é.
Então só me resta esperar (ou não) que você não seja você mesma, apenas por um dia, pois assim, quem sabe, você seja minha... para sempre.

28 setembro 2011

Nada de mas - Projeto Telefone sem Fio

Ilustra: Jacques A. Palermo

Engula, mas não prove.
Prove, mas não toque
Toque, mas não olhe.

--------------
Inaugurando com seu desenho neste projeto, Jacques Palermo.

03 setembro 2011

Sem dó

Você me inscreveu nas suas notas musicais
Cantou e me encantou
Com dedos angelicais
Me tocou
E eu desafinei 2 vezes mais
De tão bobo que sou
E não da falta que você me faz

22 agosto 2011

Errante

Ando ao acaso: caso, descaso, caso e descaso
De tanto descaso ao acaso, o caso é acatar o agora
Doravante perco o tempo, a rima, o ritmo
Acerca de você, eu me cerco

Hoje pode ser o dia
O dia da lembrança
Hoje e agora
Sem sombra, sem memória

Essa hora eu aproveito, deito e deleito
O antes eu não lembro
Só sento, sinto... não lamento
O futuro está lá fora

13 julho 2011

Herói Anônimo

Porque ele não tinha noção do perigo, foi lá e morreu
Porque ele não sabia amar, foi lá e amou
Porque ele não sabia que era feio, foi lá e se tornou bonito.

05 julho 2011

Auto-Mar

- Chega de ser alheio de sentimento
Um torpor vário, estasiante
Meio que calmante
Um alento
Com o pouco de fora
E nada do lado de dentro


- Vento é evento que sopra.
Na sobra de intento pra dar assunto
Fico calado meio abobado
Como tanto pobre, sem norte
Num sorriso de gente fraca e choro de gente forte


- Quero mais é que pinte mesmo
De azul ao escarlate
Um vazio, depois um estandarte
Pra recomeçar, tal qual navio que parte
Na aventura de se ver sem nada
Tendo só o que lhe sobraste

- Espero e avisto.
Nesse mar áspero e arisco
Uma ilha, um imprevisto
Um ponto bem quisto
Agora só falta provar que existo
Depois de um tempo sem êxito...
Paro e penso... logo desisto.

03 julho 2011

Contratempo

Eu não queria ter conseguido te conquistar
Era pra ser platônico
Era pra ser impossível
A realidade disso era mais do que eu poderia imaginar
Mas você se apaixonou por mim

Todo mundo quer ter alguém pra amar
Então eu escolhi você
Eu sei que você não tinha nada com isso
Mas agora tem, ou pelo menos teve

Não sei se escolhi muito bem
Quer dizer, sei
Mas vou fingir que não
Pra esse buraco no meu peito doer menos
E poder culpar alguém

Não sei mais o tempo que passou
O tempo que deveria curar
Se que ele criou em mim uma certeza
De que nada é feito pra durar

30 junho 2011

Inimigo

Você estragou a coisa mais bonita que tinha dentro de mim
E eu não te dei porque achava que poderia cuidar
Eu te dei porque achava que ficaria melhor em você
Você veste essa roupa, você veste essa levesa
Apesar de pesada, apesar dos pesares
Isso não serve em mim
Não mais

Era pra ser um sonho
Um sonho sonhado por dois
Era pra ser um jogo
Jogado aos pardais
Faz agora todo sentido
Que já não é mais sentido
Nem por mim, nem por você
Talvez por quem não devia
E entender só trás mais vazio
Nem dor, nem amor

Agora sei que espectativa existia
Era você, meu espectador
Esperava seu plano dar errado
Só porque o estrago lhe era mais certo

Você é melhor assim
De lado
Afim
Calado
Atrás...de mim

29 junho 2011

Invertido

Se era um tombo ou vaidade
Se tinha um pingo de realidade
Se fazia só por maldade
Eu não queria saber

Se vinha de fora ou de dentro
Se a intenção era só alento
Se a verdade tinha cabimento
Eu não queria esconder

Eu não queria uma explicação
Eu não queria a razão
Eu não queria ser mais um pião
Se desse pra escolher

10 maio 2011

Óbvio

Você parece tão óbvio
Corre trilhas, pisa em falso
Coleciona favores
Destrói espectativas

Você parece tão óbvio
Quando repete as mesmas palavras
Se entrega às mesmas pessoas
Procura uma saida

Você é obvio
Obviamente aquilo que eu procurava
Uma falta de clichê aqui dentro
Uma porta, que eu não quero atravessar

Você parece tão óbvio
Que chega a me dar calafrios
Você na verdade não é óbvio
Obviamente, o óbvio não me interessaria
Eu digo isso porque eu não consigo aceitar
Que estou completamente apaixonada pelo óbvio
Ou seja, você.

05 maio 2011

Quem saberá?


Estou traindo você, confesso
Era pra ficar bem no esquecimento, mas eu não esqueço
Não foi bem traição, entendo
Foi desligamento, temporário, imaginário, alento

Estou traindo você, queria que fosse mentira
Não entendo essa vontade de me manter fiel
Fiel a uma falsa conduta, filha da puta
Me colocando sempre na minha mira, que nunca atira

Estou traindo você, talvez ligue
Mas eu queria que soubesse
Não que isso vá acontecer
Mas nem por isso deixo de querer

19 abril 2011

Locador

E foi assim que ele se encontrou.
Despido, frente a um espelho
Reflexo, sem nexo
Certo de que houve um retrocesso
Errado, era o que queria estar

De trás pra frente, rebobinando
A fita, a vida, o vício, a chance, o lance, a corda e a vez
Vinha de vários lugares as sensações, passadas... de mão em mão
Presente, de Deus

Ele bem que sabia
Nada daquilo lhe pertencia
Nem as sensações, nem as pessoas, nem as roupas
Eram todas emprestadas, com data de entrega e multa
Multa por abusar, ficar demais, absorver

Mas o certo é entregar, se entregar
Não ficar com nada, pois pode ser usado contra você, e assim será
Direitos e deveres
A pena, ficar preso, ao passado

Ele agora estava sem nada
Ele agora se encontrou
Ele, com medo, quis voltar, só que não tinha mais pra onde ir
Ele, agora, sem ter o que agarrar
E só tendo a si mesmo
Agarrou aquele que nunca o deixou
O agora.

15 abril 2011

Dê vida a esse blog


Olá caros leitores deste blog, como vão vocês?

        Este post é direcionado especialmente para você. E obviamente o blog também, como um todo. Este post é para convidar vocês, que lêm este blog com certa frequência (ou não), a comentarem nos textos que público aqui. Quero também que este convite se expanda para os outros blogs que vocês gostam. Como eu sempre disse, a vida de um blog está nos comentários que os leitores deixam nele. Pois desta forma vocês, aí do outro lado da tela, estão interagindo diretamente com o autor.
         Gostaria que percebessem, caso ainda não tenham percebido, que o blog vive disso, dos comentários de seus leitores. Um blog sem comentários é apenas um devaneio no escuro de autor esquizofrênico. Não estamos aqui para falar sozinhos, porque se o quiséssemos, estaríamos com nossos textos guardados ou simplesmente não existiriam. O seu comentário, que muita vezes não deve demorar mais do que um minuto seu, é o combustível, o que dá motivação para mim e para qualquer autor de um blog a fazer novos posts, trazer textos cada vez melhores para vocês. E como saberemos que estes posts estão melhores? Adivinhe?
         Estou deixando um link, no banner acima, que o direcionará a um post que fala muito mais sobre esse assunto e bem melhor do que eu fiz aqui. Espero desta forma estar ajudando você a entender o quão importante é o seu comentário para nós, blogueiros e qualquer pessoa que gere conteúdo seja ela onde estiver.
         Muito obrigado a todos que deram comentários neste blog, por menor que seja o número de comentários o que importa é que você deu sua contribuição, participou com a sua opinião sobre o conteúdo e não somente um comentário automático. Gostaria de dizer que vocês são os grandes responsáveis por ele ainda existir. Continuem comentando, todos são lidos com o mesmo carinho e atenção... e euforia também (porque nada se compara a um email na caixa de entrada avisando que mais um comentário foi adicionado ao blog).

14 abril 2011

Fim.

- Hey, e aí cara?! Quanto tempo hein?
- Opa, que saudade!! Pois é, bastante mesmo. Como você está?
- Bem, e você?
- Também.

27 março 2011

Rascunho

Ele rabisca, nós rabiscamos e eu rabisco. A forma não tem tanta importância. Importante é colocar no papel, é sair das ideias, é correr da ponta do iceberg até o fundo do oceano, é sair pra ganhar vida.

A hora que você poe em prática é como se o mundo pudesse presenciar, perceber que você está ali. Não tem muita importância, não é importante até que você ponha em prática. Talvez você tenha medo de rabiscar, por não ser ainda perfeito, mas isso é controverso. Rabisque, rascunhe, tire essa coisa da sua cabeça e coloque no mundo, ou quem sabe, coloque na cabeça de outro. Não seja egoísta, o que as vezes pode lhe parecer louco, impossível, nada a ver, talvez já tenha sido muito visto, feito e quem sabe, seja passado. Só não foi lhe passado.

22 março 2011

À distância.

Como anjo você me acordou
Me acordou pra dizer adeus, e bateu asas
Nua, assim como veio assim se foi
Levando meu coração, minha calma
Alma eu ainda tenho, só não sei mais como é agora
Agora que tenho que procurar uma parede que for
Um pedaço de papel, de contas pra pagar
Pra de alguma forma registrar, o que ainda aqui ficou
Ainda arde em mim o nosso fogo
Mas agora parece grande demais pra uma pessoa só
Chego a suar sem saber o que acontece
Preciso escrever, pois não posso mais te beijar
Preciso apagar, pois não posso mais te afagar
Preciso me exercitar, porque amor, ainda estou no mesmo lugar.

15 março 2011

Desconforto

Nenhuma posição estava satisfazendo
Virava de um lado pro outro
Pensava em coisas antes proibidas
Era carregado contra sua vontade
Se viu correndo quando queria continuar andando
Sentia pressa, mas também sentia que não queria sair daquela posição confortável
Água fria
Vontade, alívio e um pouco de solidão
Volta pra casa
Estende os braços
(Pra ninguém)
Pega um caderno
Escreve e depois apaga.

10 fevereiro 2011

Fisiolofando (Projeto Telefone sem fio)

Ilustra: Lia Fenix

Por que água com açúcar acalma? Seria a substituição da mamadeira ou o açúcar que trás a infância a tona nos levando para uma época onde a falta de responsabilidade era permitida? Onde o castigo era a salvação?
Por que esse medo de multidão? Talvez a angústia de não se ver; muitos mundos, muita intromissão, muitos olhos, olhares, perda da intimidade, privacidade e silêncio. Muita atenção, por toda parte, inclusive a sua sobre a intimidade alheia.
Por que falar é pôr pra fora? Talvez porque o silêncio seja entendido como sendo pra dentro. É o oposto. É transformar em som aquilo que antes era apenas uma descarga elétrica. Mas continua sendo descarga, só que de idéias, sentimentos.
Por que a vírgula vem antes do ponto final? Porque sem uma pausa para respirar não se chega a lugar algum, quiçá o ponto final.

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Primeiro veio o texto por mim e depois a Lia fez o desenho inspirado nele. Obrigado Lia, ficou muito bom mesmo! Adorei! :)

05 fevereiro 2011

Cartel

Venho por meio deste
agradecer a atenção
A quem interessar
[possa, por gentileza]
Endereçar essa petição

"Faça-me o favor" - Diria ela ao seu autor
"Trate-me com carinho
Faça, não só um sonetinho,
Mas uma rima que tenha cor"

Desde já agradeço
Por não saber como começar
Um grande abraço aos que ficam
Boa viagem, mande um postal de lá

Grato aguardo sua resposta
E deixo um abraço também
Beijo eu mando aos mais íntimos
Quem sabe algo mais além

Contas de chocolate


Sei que não fui claro
E ao não ser, permiti que abristes os olhos
E imaginaste uma forma
Que se antes não fosse, agora se torna

Mas agora sou direto
"Quero você"
Essa é a verdade
Sem fantasia, sem máscara
Por mais que pareça singela
O que não falta é insanidade

Insano é o meu desejo
Que não tem rumo
Mas tem uma origem
Que eu agora fumo
Tragando a fuligem

E não obstante
Por mais que distante
Por hora, constante
Uma canção cativante
E mais que suficiente
Aos olhos dos amantes

Queria que fosse
Por antes não ter sido
Mas agora quero que seja
Por ter merecido

06 janeiro 2011

Afagocitose

Eu não lhe dou garantias, lhe dou riscos, rabiscos… nada de um papel em branco. Não cabe só à você, cabe à mim também permitir que os seus contornos se encontrem com os meus.


O mito que eu vá lhe fazer melhor é uma praga. Omito que eu possa lhe fazer melhor, só pra mostrar que na verdade é você quem o faz através de mim, com a sua permissão.


Vide a bula, talvez ela lhe mostre os riscos. Vire a cara, talvez assim você não veja e fique mais bonita de perfil, numa foto estática em preto e branco. O que foi feito pra ser apreciado não pode ser tocado, quem sabe trocado?


Uma falsa promessa é as vezes tudo que a gente precisa. Não precisamos que ela seja cumprida e nem mesmo justificada. A sua simples existência gera a sensação desejada e nada mais. E o que a gente espera mais do que a sensação? Diria um ingênuo que seria a realidade. Pois então eu lhe perguntaria: e como você toma conhecimento dela?

28 dezembro 2010

Ceifador

Sei falar das crianças escravizadas
Sei falar da volta por cima
Sei falar dos sentimentos e problemas que não tenho
Sei falar das coisas que não sou
Sei falar das dores dos outros
Sei falar da falta de abrigo, abrigado
Sei falar de como tudo vai bem, obrigado
Sei falar e escrever
Sei falar "é fácil"
Sei falar, é fácil.

04 dezembro 2010

Deixe Star

Venda-me os olhos
Veda minha vida
Vide à sua volta
Vira e mexe, se solta
Venda a sua vez
Ceda, a sua voz
Inverta os papéis
Invista na minha vontade
Vista uma seda
Apaga minha sede
Revele a morte velada
Descubra o véu de veludo
Nestes tempos vindouros
A viúva não é só quem ficou
Mas aquela que se nutre
Tal qual um abutre
Da dor da saudade

07 novembro 2010

Re-sabios Entre-tidos

Ele ri e sabia
Um tanto quanto ressabiado
Que não fazia nada demais
A não ser saber
O que não se devia fazer

Era em torno desse adorno
Aquele que melhor cabia
Sem arredores, sem contornos
Que ele, entre uns e outros, tinha
A manha que à entretia

Mas o melhor de tudo
Não era o que estava por vir
Nem que era passado, ou esperado
Era que ela, sabendo de seu ressabio
Não sentia
O vazio do presente desesperado
E que realmente se entretia.

20 outubro 2010

Fiado

Não sou raso nem a razão
Nem sofro baixo com a solidão
Escrevo diferente porque me vejo igual
Se te gosto em mais de uma
É porque não ainda não sei dizer qual
Mas te guardo num caminho, uma folha de jornal
Quem sabe eu ainda não o siga
E viva o que quer que me diga
Seja na íntegra, seja na intriga
O bom mesmo é não ser legal.

02 outubro 2010

Queria não saber

Eu não sei a ordem que você põe os livros
Eu não sei a cor da sua escova de dentes
Eu não sei a hora que você termina suas tarefas
Eu não sei o quanto você gosta de mim
Eu não sei o número do seu manequim
Eu não sei quando eu posso brigar com você
Eu não sei escolher o seu melhor doce
Eu não lembro o que eu não sei
E assim fico parecendo pra você uma pessoa que não te conhece
E você continua pensando em mim toda noite, até que adormece

Apostaria com o destino que nos uniu
Que você nunca soube nada sobre isso
E que se um dia soubesse
Faria tudo ser diferente
Talvez um sonho dentro de uma prece
Ou uma mentira aparente
Que perdurasse até onde desse

Porque lembro tudo de cor?
Queria mesmo era não saber
Ter uma inteligência ignorante
Pra poder ser mais amante
E menos corante.

19 setembro 2010

Mantra 2

Minha alma
Minha calma
Me acalma

Minha alma
Se acalma
E me acalma

Minha calma
Sem alma
Se acalma
Me acalma

Minha alma
Minha calma
Me acalma
Me acalma
Me acalma

14 setembro 2010

Peixe fora d'água

Já era hora de descer do navio e finalmente voltar para casa depois de uma temporada de vários meses no mar pescando. A pesca havia sido farta e agora todos os seus amigos e amigas iriam voltar para suas famílias para então depois de algum tempo voltarem novamente para o trabalho no mar.

Fato era que "voltar para sua família" não fazia mais sentido para aquele que havia passado tanto tempo imerso em uma atmosfera de amizade e companheirismo isolado de todo o resto da humanidade. Era um lugar aonde só havia a saudade de casa e a vontade de voltar para sua morada em terra firme.

Mas agora em terra firme as coisas pareciam ter tomado o rumo inverso, a saudade agora era do mar. Mas era óbvio que não era do mar exatamente, era sim das pessoas, do amor platônico que estaria por lá também... A "família" em casa era agora estranha, já haviam se acostumado com a saudade,  com a sua ausência. O tempo que passou com seus companheiros era o que tinha feito tudo mudar, seja em momentos de distração, brigas, cia, etc.

No meio do caminho pra casa ele se via perdido. O coração já não tinha mais um lugar, uma morada. Estava indo aonde a correnteza levava, não fazia distinção da direção e nem de sentido algum. Não fazia sentido se ver entre familiares quando na verdade não passavam agora de pessoas de grande similaridade genética.

A temporada em casa o fez o ser mais sozinho deste mundo, mais ilhado e afogado entre propagandas, televisão, comida e cinema. O trabalho o tirava toda essa "diversão", mas era pra lá que ele queria ir. Era pro encontro de pessoas que gostavam da sua cia por um bom e longo tempo sem pensar mais vezes do que o necessário para cometer um crime. O convívio enclausurado oferece perigos, mas esses, ele nunca havia presenciado, se havia, era velado. Imaginava que havia encontrado o grupo de amigos mais gabaritados para dividirem suas histórias entre si. E eram.

Na volta ao mar todos reclamavam das vidas medíocres que passavam em terra firme e que a única coisa que pensavam era em voltar à pesca. Percebiam que passavam o tempo todo contando as histórias que tinham no mar, como lidar com o isolamento no oceano. Viram como era maior o isolamento na cidade, onde parece mais um arquipélago.

Torciam para naufragar e ficarem sozinhos em uma ilha e esquecer que um dia vieram a ter uma vida de fingimentos, de trabalhar por uma vida que já nem existia mais...

...

Mas agora, em alto mar, depois de tanto tempo, a saudade da família voltara. Torcia para terminar logo a pescaria e encontrar um descanso. Passar um tempo fingindo ser quem não era mais. A saudade não era da família, e sim, de quem um dia eles foram.

09 setembro 2010

O vilão

O artista é um striper nato. Gosta de se despir, ainda mais se for um anônimo. Dá a cara a tapa, mas não a sua, a de um laranja que ele mesmo cria. Se reserva no direito de disfarçar e até mentir os nomes e as histórias para que seu segredo fique assegurado.

São nessas estórias e contos que seus sonhos se tornam realidade e o poder de manipular as pessoas finalmente é possível, pois são suas crias. Manipula detalhes fazendo o leitor olhar para o lado mais forte do monstro, deixando os flancos desprotegidos do nosso dragão escritor se safar mais um vez. Ele brinca ao passo que deixa você, pobre leitor indefeso, pensar que está no controle. É um jogo arriscado, mas que termina em vitória pro autor quando vê que a discussão passa longe do alvo e acerta bem no meio do seu ego, inflando-o. Ahh, como não se viciar com tal sensação! Presas brigando entre si quando ele, o responsável pela briga, está sentado tal qual um imperador que acena e escolhe o vencedor para o ultimo golpe de misericórdia. E ainda recebe elogios, comendo-os como uvas servidas pelas mais belas mucamas e as críticas ruins são os os caroços que ele cospe em lugar fértil a fim de que dali passam brotar bons frutos no futuro.

A metalinguagem seria como um tiro que sai pela culatra, um fruto da criação, um delator espião que tenta sabotar os planos dos poetas e instaurar um golpe de estado. Há tempos ela tenta ser mais clara e objetiva, mas cai nas garras de sua natureza, sua origem, seu sangue, como uma piada para alegrar a nobreza, é o bobo da corte.

Alguns artistas insistem que só querem te entreter. Mas não se engane, pois como bom contador de estórias ele é um mentiroso nato. Então, muitas vezes, de vítima você pode passar a cúmplice.

01 setembro 2010

Rito de passagem (Projeto Telefone sem Fio)

Ilustra: Lia Fenix


Era um dia especial na casa da Chapeleira
Havia comprado todos os tipos de doces, bolos e chás para comemorar
A comemoração vinha da notícia que tinha para dar
Uma notícia que ela mal podia segurar

Tinha preparado tudo pra impressionar
Um luxo como nunca antes visto
Era fartura pra todo lado
Nem ela sabia pra que tudo isso

Queria ver todos contentes
Sabia que a festa representava um marco
Pois sendo filha de quem era
Nada seria equivocado

Deu muito trabalho toda aquela festança
Havia de tudo, até bolo na aliança
Ela não sabia como tudo começara
Tinha até penetra sem vergonha na cara

Chegou então o grande momento
Quando os convidados já estavam fartos
Era a hora do anúncio
Todos haviam lambido seus pratos

Então ela começou a falar:
"Bem vindos meus amigos
De longe vocês vieram para aqui me ouvir declarar
Vocês até agora não sabem o que eu vos tenho a compartilhar
Dada a minha paternidade eu tenho muito o que fazer
Mas até agora eu era só uma chapeleira e não podia me comprometer

Entretanto completei minha jornada depois de muito desaprender
Serei a partir de hoje não só mais uma apreciadora de chás
Não só mais uma trocadora de roupa
Serei mundialmente conhecida como a Chapeleira Louca!"
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louco
lou.co
adj (cast loco) 1 Que perdeu a razão, alienado, doido. 2 Insensato, inconsiderado. 3 Arrebatado, imoderado, imprudente, temerário. 4 Mec Que pode girar independentemente sobre o eixo em que está montado, sem comunicar a rotação a este; solto, livre: Polia louca. 5 Alegre, brincalhão, folgazão, galhofeiro. 6 Doidivanas, estróina, extravagante. 7 Apaixonado. 8 Extraordinário, fora do comum, estupendo. sm 1 Indivíduo que perdeu a razão. 2 Indivíduo extravagante, desatinado.

loucura
lou.cu.ra
sf (louco+ura2) 1 Estado de quem é louco. 2 Med Desarranjo mental que, sem a pessoa afetada estar ciente do seu estado, lhe modifica profundamente o comportamento e torna-a irresponsável; demência; psicose. 3 Ato próprio de louco. 4 Insensatez. 5 Aventura insensata. 6 Grande extravagância. 7 fam Alegria extrema, diabrura: Loucuras das crianças. 8 fam Propensão excessiva; mania: Loucura pelo futebol. 9 fam Despesa desproporcionada. Antôn (acepção 4): siso.

19 agosto 2010

Sem título

Daqui de cima da pra ver que estou longe de todos. É natal, e ninguém estaria em casa sozinho hoje. Mas tudo bem, nada que um cigarro não resolva, claro. Mas eu não fumo.

O carteiro e o cigarro

Sei bem como é ser bem tratado. Esse é um mal, saber. Fico aqui de cima achando tudo o que eu posso achar, e no final, não acho nada. Tenho a mim mesmo para convencer a sair e me surpreender, mas hoje eu resolvi fumar um cigarro. Pronto, um cigarro iria me relaxar, me tirar daqui. Seria um amigo que todos por aí parecem levar no bolso e podem até acender. Só que eu sou desgraçado demais pra me tirar daqui. Eu quero isso.

- É natal, foda-se. Vou descer e comprar na primeira banca de jornal o meu primeiro amigo, quer dizer, o meu cigarro.

Impressionante! Acho que até você ficou convencido depois que eu xinguei né? É, mas eu não. (Xingar faz a gente parecer ter mais certeza do que está falando, fica mais real entende?) Tô aqui ainda sentado, sou um personagem parado e você não vai querer ler até o fim pra descobrir o meu paradeiro. Sabe o por quê? Porque estarei bem aqui, quando sua leitura terminar, já você, talvez não. Ah, mas você é chato, tem a esperança de que no final, eu vá te surpreender..., ok, siga ao desapontamento.


Vou te contar o que eu faço pra viver: entrego cartas o dia inteiro pra pessoas que eu nunca vou conhecer. Levo até elas uma informação importante, um carinho de um amigo distante, as letras e garranchos que elas guardam com apreço em um lugar especial. Sim, sou um carteiro. Não, ninguém mais recebe cartas de amigos. Falei isso só pra te deixar com aquela frase na cabeça: "Minha época era tão boa, quando as pessoas mandavam cartas". Sou da sua época amigo*, nunca as recebi. Nem de você e nem de ninguém. Nem quando a tarefa do colégio era de cada um enviar uma carta a um "amigo" sorteado (eu a mandei, mas não recebi).

Não fique triste por mim, eu não fiquei.

Fato é que hoje temos email, sms, celulares e o escambau... e eu ainda entrego cartas. Eu ainda acho que recebê-las seria uma coisa legal. Mas não tem mais. Agora é só contas, revistas, propagandas... aquele mesmo material que você também encontra na sua caixa de correios, virtual. Mas eu sou real. Eu recebo pra entregar. Vejo muitas pessoas todos os dias, ando bastante e no final do dia eu estou sozinho, sem carta e sem amigo. Faço a informação fluir, chegar ao seu destinatário, todos se entendendo, mas eu não.


Vou escrever uma carta pra mim mesmo. Quem sabe até me sugerir ir até o jornaleiro comprar um cigarro. (Hey, você ainda taí? Insistente ham?) O jornaleiro é um cara que viu muitas coisas mudarem no seu ramo nos últimos anos. Assim como as cartas pararam de serem escritas, os jornais estão diminuindo drásticamente suas tiragens... não pense nisso.

Mas eu não estou aqui pra falar dele, estou aqui pra escrever uma carta pra mim, que eu vou me recusar a entregar. Eu procrastino de propósito. Eu sou sincero comigo mesmo. Alguns vêm a sinceridade como coragem. Mas no meu caso não é coragem porque não há medo. Sou é ingênuo mesmo, a verdadeira explicação pra muito "corajoso" por aí.


Você deve estar pensando na utilidade da carta quando se pode conversar pessoalmente. Também deve estar pensando na utilidade do email quando se pode usar o msn, gtalk, orkut e etc. A carta escrita à mão é como se fosse um desenho, um registro, um documento. Serve pra você ler e reler, guardar e pendurar (e acender também). É tal qual uma foto... mais até, pois trás um monólogo, um roteiro, um movimento, uma idéia de alguém que quis que ela fosse sua e ela está congelada no tempo. Eu seria mais feliz se pudesse entregar uma carta dessas. Ver o sorriso de alguém ao recebê-la e o seu olhar com afago pro remetente com expectativas.


(Alguma coisa foi entregue aí?)


Vou seguir com a minha carta, sem cigarro, mas eu não disse que não teria um álcool... e ela vai começar mais ou menos assim...

31 julho 2010

Sintético

Se eu tivesse coragem plantava uma árvore
Se eu contasse a verdade eu diria que que a palavra não é coragem
Não é que eu conte mentiras, mas é que eu não sou daqui, sou de lá
E de lá não dá pra ver vocês direito, então eu interpreto mal
Mas que mal tem em ser mal interpretado?
Tantos bons nomes o foram, serei apenas mais um, mas um mau
Se eu ainda estou aqui, então é prova cabal
E não saio nem a pau

Se eu tivesse coragem não contava até três
Se eu guardasse o que sinto, talvez
E como acabo com isso de vez?
Mas que mal pode ser maior que o que sinto?
Minha fala tem venenos que eu desconheço
Tramo tanto que me omito, minto
Um pouco disso até que mereço
Mas esqueço que tenho medo de mim, não de você
Você eu fecho a porta na cara, desligo o telefone, não ligo
Eu estou sempre aqui

28 julho 2010

Provavelmente

Ela não sabia que caminho pegar. Pegava qualquer condução que a fizesse pensar que estava em movimento... e mais rápida do que era capaz de calcular não importa para onde estivesse indo. Tinha um jeito doce de pedir carona que deixava o dono da carruagem não querendo chegar em seu destino próprio, pois assim a deixaria também (ou não, mas isso ninguém saberia responder).

A soma dos caminhos desencontrados percorridos era enorme. Para qualquer um que a visse daria-a quilômetros, como viajante. O problema, principalmente para ela, era que se via muito perto ainda de onde tivera um dia saido com as trouxas nas costas. Havia ainda um sentimento, talvez, de que não tivesse partido. A partida sim era difícil, o desatar, o adeus. A segurança de um lugar conhecido ganhava da busca pelo novo. Ela teimava em dizer que estava indo longe, que com os viajantes aprendia sobre novos mundos afora... mas que ela nunca esteve. Quem sabe esteve, mas voltara?!

Começava a ganhar rugas não pelo tempo, mas pelas caminhadas desperdiçadas. Buscava um lugar para descansar quando o real cansaço era de ficar parada. Fugia mesmo era de um rosto conhecido, de ser conhecida, de conhecer a si mesma. Mal sabia ela que pra sair de dentro teria que deixar outro entrar.

24 julho 2010

Vlog

Olá meus caros leitores,

             Agora no intuito de também divulgar esse blog eu resolvi começar com um vlog. Para quem acompanha meu trabalho aqui agora também poderá ver meus vídeos. O link para o canal agora estará sempre aqui em cima no menu principal. Pra você que está com preguiça de clicar aí em cima vai o link aqui: http://www.youtube.com/user/murilonm

             Caso vocês gostem dos vídeos e queiram receber as atualizações que eu for fazendo ao longo do tempo, se inscrevam no canal.

Atenciosamente, eu :)

10 julho 2010

Tiro livre indireto

Era pra me sentir sedento, sem ninguém olhar
Mas fiquei isento, pra variar
Tinha um nome comum, mesmo assim vou elogiar
Não era pra eu ter dito isso, não vou negar

Ensaio para não estragar
Ensaio para não atuar
Atuo para não disfarçar
Estrago por não atuar

Viajo para não ver
Não vejo para não viajar
Não viajo para não começar
Começo a não acreditar

30 junho 2010

Stop

Fila do pão
Coceira no ouvido
[- Até que chegue sua vez...]
Cotovelo dolorido
[- Hey, esquece o pão, pegue o bolo mais concorrido!
- Não esse não, o outro, o mais colorido.]

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Dia cinza
Cinzeiro
[- Nunca neva!]
Nevoeiro
Tem barulho
Tem fúria
Tem ira

Furadeira

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- Não queria isso? Pronto conseguiu!
- Ok, eu cheguei até aqui, e agora?
- Isso você tinha que ter pensado antes...
- Se eu tivesse pensado antes não teria conseguido chegar até aqui...

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10 junho 2010

Voo-não-voou

Cogito um agito
Enceno um aceno
Abraço o cansaço e durmo

Venço um vício
Pago o preço
Cobro da cobra
O que eu mereço

De fato era ainda feto
Tonto tanto quanto
Afetava mesmo era o afeto
Certo é ser incerto

Fato é que nem abraço cogito
E aceno para o cansaço
Que mereço outro vício

26 maio 2010

Sem talheles

Tlês platos de tligo pala tlês tligues tlistes.
Pala todos nós, humanos, apenas um Platão.

17 maio 2010

Céu limite (Projeto Telefone sem fio)

Ilustra: Soledad Cifuentes

Se um dia conseguisse esconder todos os sonhos numa caixinha eu o faria. Assim poderia roubar não só os meus sonhos mas dos outros também e guardar para poder tê-los quando mais precisasse e achasse conveniente. Mas ainda eu não pude.

Talvez os sonhos não caibam mesmo em caixinhas, talvez nem em nossas cabeças, protegidas por cabelos ou não, e só. Nossos sonhos ficam evidentes, respiramos e transpiramos eles e quando vemos que realmente estão evidentes, aparece a negação. E ela não é só para os outros, é para si também pra ver se nos convencemos. Os sonhos não podem ser tão explícitos, precisamos de alguma forma manter em segredo, para que não nos sabotem no meio do caminho, é um plano traçado com detalhes ou não, mas não deixa de ser.

E a gente nega. Nega que queria isso ou aquilo. Não aceitamos a nossa condição de querer coisas e/ou pessoas. É, e a gente quer. Aceitar não me faz nem um pouco satisfeito com a minha condição de possuidor, nem que seja da mentira.

As vezes nos colocamos do lado de fora, descemos o castelo e fingimos não morar lá. Tudo do lado de fora parece mais bonito, é um sonho. Sonhos são mentirinhas que nós contamos todas as noites para nós mesmos. Sonhar implica em mentir. Quem cria mente uma realidade. Mentimos várias vezes para nos convencermos. A repetição nos faz ficar acostumados com uma falsa realidade, que mais pra frente se torna a única coisa que tivemos durante um bom tempo. E ela fica familiar.

Se for fugir, fuja com estilo. Comece mentindo, sonhando, e logo você estará tão longe que só enxergue águas por todos os lados e quem sabe você não acha o seu peixe grande, pescador? Ou quem sabe, se afogue...

09 maio 2010

À noite

Um bar
Uma mesa
Um olhar
Uma presa
Um altar
Sobremesa
Um lar
Uma certeza
Um par
Uma fraqueza
Não amar
Ela era Teresa
Ele Baltasar.

04 maio 2010

Pare de esperar, espere! (Projeto Telefone sem fio)

Ilustra: Soledad Cifuentes
Pare de esperar, espere!

15 abril 2010

Dez motivações

Você olha, dá um sorriso.
Ela olha, levanta a sobrancelha e sorri também.
É um sinal, você não pode negar.
Se pergunta se o sorriso é pra você ou se é pra ela mesma.
Ela tem tempo.
Você vai arriscar, vai até ela..., Não! Espera! Ela tá olhando pra outro...
Poxa, pior que não, é pra você mesmo. Você não tem mais tempo, precisa ir falar com ela.
Você vai.
Puxa conversa, ela sorri novamente, te abraça.
A... nestesia. Oi? Volta rapaz! Fale com ela!! Fale com ela!!
Ufa, será que ela percebeu que eu não tava aqui? Acho que não.
Você olha nos olhos. Ah que olhos!!
Hey, acorda! Ela tá olhando ow!
Vocês trocam algumas frases, pupilas se dilatam.
Ela volta para onde estava, estava ocupada trabalhando. Você usa seu tempo que não tem para olhar pra ela agora de longe.
Droga, lá vem as espectativas e você já está decepcionado.
"Hey, não desista!"
Quem disse que você desistiu?

13 abril 2010

Num dado momento (Projeto Telefone sem fio)

Ilustra: Soledad Cifuentes

Num dado momento
Não sei se era sorte ou se ela lamento
Meio que de fora, meio que de dentro
Um sopro de alegria
Meio que vinha, meio que ia
Trazendo o antes pra depois
Meio que no meio de nós dois
Um prato de feijão com arroz

Numa dada hora
Parecia que não era agora
Que vinha tudo de fora
Meio na vinda, meio de ir embora
De onde não se vinga a ameaça
Medo da vida, medo da caça
Meia vida, meia taça

Era dado como morto
Meio sem tempo, meio sem sentido
Era tudo, menos sabido
Agia como se tivesse, mesmo sem ter tido
(O seu destino desvairido)
Contrário a toda corrente
De fato o mais iminente
Meio cheio, meio vazio
No meio de tudo, no meio do rio
Meio sortudo, meio sombrio
Meio confuso, meio colorido
Meio a meio e não se fala mais nisso!

07 abril 2010

Doador

Doa a quem doer esse é o meu dom
Não é meu aquilo que me dão
Doe a quem doar deu no que deu
Comprei o que "cê" me vendeu

É "mais do que nunca"
É "permaneça"
O amor não tem desculpa
Tem dor de cabeça

30 março 2010

Confeiteiro



Por uma fração de segundos se apaixona 3 vezes
Se trai a cada piscadela
Compra os mais caros em segredo e pros outros diz que é indiferente
Doa os livros que nunca leu dizendo que podem mudar a vida de alguém
Se vende por um preço superestimado e insite em ver mérito nisso
Diz que admira quem faz o contrário, mas é mentira
Termina uma conversa com silêncio, pra dar um ar de mistério e superioridade
Abraça pra ser abraçado
Veste uma camisa que não é sua, mas gostaria que fosse
Faz de conta que é amargo, mas é doce.

21 março 2010

Antes passado

Tinha intriga
Tinha entrega
Tinha tudo
...tinha nada!

Era surto
Era sorte
Era tudo
... era nada!

Foi feito
Foi feto
Foi fato
Foi tudo
... foi nada!

Meu mundo
Minha muda
Minha muda
... minha nada!

15 março 2010

Temporada de caça (Projeto Telefone sem fio)

Ilustração: Soledad Cifuentes

Julie vivia em uma época em que caçar cervos era uma diversão. Seus irmãos é que gostavam de caçar e ela nunca tinha ido antes, pois era coisa de homem, então só ficava em casa ajudando sua mãe. Tinha um gênio forte e como era a única mulher entre os homens da época, aprendeu a guardar aquilo que sentia. Ultimamente os dias de caça não estavam trazendo muito, já que o cervo que estava sendo caçado havia semanas, permanecia intacto.

Em um dia de caça, Julie saiu para colher alguns temperos para o almoço enquanto seus irmãos, pai e tios estavam a caçar este cervo que vivia em sua terra e teimava em não ser achado (como diziam eles), seja por cães farejadores, seja por caçadores bem experientes.

No momento em que se via procurando alguns condimentos, se assustou ao ver ao longe o cervo, se alimentando, comendo grama fresca, parecendo não ter qualquer preocupação e/ou de estar sendo procurado. Uma figura imponente, um cervo imperial, com chifres imensos. No momento em que ela o viu, ele para de comer e se ergue olhando-a fixamente por um breve momento. Neste instante, Julie sente como se estivesse fora de seu corpo, observando uma natureza que nunca antes tivera oportunidade de ver. Um animal selvagem como aquele, sua tranquilidade, com a natureza verde ao fundo.

Foi então que foi um barulho de cães, cavalos atrás dela a fez sair deste momento de devaneio e começou a fazer barulhos, tentando espantar o cervo. E ele mesmo assim continuou a olhá-la sem se mover. Ela olhou para trás e viu a orda de caçadores se aproximando agora sorrateiramente. Olhou para procurar o cervo e ele já havia sumido.

Julie nunca mais viu este animal desde então, nem mesmo falou sobre o encontro. Alguns meses depois, finalmente ele foi abatido pelos caçadores.

Estendido de cabeça para baixo, ao ver seu amigo errante frio e imaculado, Julie se lembrou do breve momento que teve ao seu encontro e como ele foi bom e repentino. Seu segredo agora não parecia fazer a menor diferença e se sentiu feliz ainda sim por tê-lo espantado naquele momento, dando-lhe um pouco mais do seu tempo de vida. Ela sabia que muito provavelmente sua ação pode não ter feito também diferença ao cervo, já que ele se mantinha vivo até então... mas quem pode culpá-la se era assim que era gostava de pensar.

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Com esse segundo trabalho, terminamos nosso "teste" e gostamos muito do resultado, espero que vocês também. Eu e Soledad, estamos pensando em construir um blog especialmente para este fim, onde cada post teria a contribuição de mais de uma pessoa pelo menos, sejam mídias diferentes ou não.

Esperamos em breve poder anunciar esta criação, até lá iremos nos divertir com mais posts compartilhando pontos de vistas diferentes da mesma paisagem.

12 março 2010

Dissidente

Disse do som dissonante
Da moça errante
Do dom destoante
Do tom distante
Do ponto de partida
Da cara fechada
Do amor à vida
A troco de nada

Ouvi que foi por pouco
Que faltava vontade
Que parecia um louco
Que dava saudade

Então que se fale menos
Que não durma lá em casa
Que vá para Vênus
Só com uma asa

Tenso, denso, penso
Troca, draga, praga
Tricô, droga, prego

06 março 2010

Tom (parte 1/2)



Por um breve momento Tom quis que esse momento se tornasse eterno. Que todo esse sentimento que estava sentindo fosse enviado para todas as pessoas ao redor do mundo tal era sua felicidade... Acordou na manhã seguinte como um viciado, pensando em como ter novamente aquilo que experimentou ontem. Mas Tom sabia que isso não poderia acontecer de novo. Ele sofria de uma maldição.

Tudo começou quando Tom encontra o que pensava ser a pessoa que continha todo o amor e beleza que ele estivera procurando por toda a sua longa, longa, longa vida de 15 anos. O breve momento em que esteve com Emma e se declarou, Tom foi a pessoa mais feliz do mundo. Este dia não é lembrado na sua memória como uma coisa bonita, mas sim como uma cicatriz. Desde então, Tom sente suas costas doendo, rugas aparecem em seu rosto, cicatrizes em lugares diversos a cada novo amor. E por alguma magia as pessoas que proporcionam isso a ele se rejuvenescem, ficam mais belas e de alguma forma imortais.



Hoje é um daqueles dias que Tom pega o telefone para ligar. Ligação feita, telefone agora no gancho, e ele se senta sentindo uma fisgada no braço. Por um momento ele fica em posição fetal se contorcendo e para. Se levanta e continua sua vida no resto de domingo que lhe sobra.

La fora todos os seus amores ainda estão imutáveis, esbanjando uma juventude que ele não tem mais. Mais de 30 anos se passaram e o mundo parece só mudar, o tempo passar só para ele. "Incrível!" ele pensou algumas vezes.

- Como podem estar todas em perfeito estado? Como isso é possível? - questionou Tom.

De alguma forma todos que tinham o toque de Tom, recebiam por ele a eternidade. Como um Midas dava vida eterna ao mesmo tempo que se via morrer.

Hoje não era mais um dia para se questionar sobre essas coisas. Tudo se foi. Ele nunca entendeu e já não queria mais entender.

- Não ia fazer diferença.

Tom continuava a ter os dias mais felizes da sua vida com o conhecimento que isso seria uma única vez com cada pessoa. Essas pessoas entendiam menos ainda o fato de não envelhecerem. Davam crédito à medicina, à alimentação, mas nunca passou por suas cabeças que tivera sido Tom o responsável por essa dádiva ou maldição de viver para sempre.

Hoje ele vai descansar e amanhã se preparar para poder encontrar um dia em que tudo isso terá um fim. Mas hoje não, hoje ele vai se esforçar para dar vida eterna a mais um amor que durou o suficiente para começar todo o processo. Foi-se o dia, nada mais.

Essa era sua sina. Se apaixonava a cada estação na tentativa até agora fracassada de tornar eterno aquilo que ele sentia em um momento mágico...

(continua...)

07 fevereiro 2010

Coisa de nossa cabeça (Projeto Telefone sem fio)


São Paulo parada. Nenhuma via dava acesso, como sempre. Todos estavam querendo chegar em casa. Tudo consequência das chuvas que não cansavam de castigar a grande metrópole fazia algumas semanas seguidas.

Em meio a todo esse caos estava Bianca, Bia para os mais íntimos. Bia voltava para casa com a tranquilidade de quem está a passear por um parque calmo cheio de árvores e muito verde, ou seja, o semblante comum dos transeuntes das grandes cidades. Um ar de avoada, comum a quem parece não ser deste mundo. Estava vivendo mais nesse mundo do que ela mesma gostaria de admitir.

Mora sozinha desde que sua mãe faleceu e agora só recebe algumas visitas da tia, irmã mais velha de sua mãe. Visitas essas que tinham muito mais interesses por parte da tia e Bia se via cada vez mais afastada da única família que havia lhe restado.

O fato é que nossa amiga errante trazia consigo uma tranqüilidade que assustavam até os acelerados a sua volta. Do restaurante que trabalhava como garçonete pegava dois metrôs ela já estava na porta de casa. Era sempre o último horário e estava quase sempre sozinha.

Uma noite voltando para casa, esperando seu metrô, Bia percebeu a existência de uma cia estranha nesta noite. De alguma forma ele lhe parecia familiar. Acenou com um levantar de sobrancelhas e com esse gesto sentiu como se tivesse feito algo automático mas que de alguma forma, naquele momento, lhe trazia também à Terra. Veio a tona então que este ser, que esperava também sua mesma condução, vinha fazendo isso a pelo menos uma semana atrás. Bia nem tinha se dado conta de sua presença até então. Sentaram um de frente para o outro e acabaram iniciando uma conversa. Isso se deu por mais alguns 3 ou 4 dias até que ela soube seu nome, Max.

Queria ela que sua viagem demorasse para que pudesse ter um pouco mais do que conversar com essa pessoa que parecia gostar de passar o tempo com ela. Seus dias se transformaram em noites. Noites estas que se resumiam apenas no final do expediente que vinha para lhe tirar do transe do dia a dia.

Conversas sérias, risadas, um amigo que ela nunca teve. Os problemas que a cidade vinha sentindo ficava cada vez mais longe dos seus e agora ela se concentrava em descobrir como não perder isso que tinha encontrado. Ele era um rapaz que agora chamava muito mais a atenção dela do que quando se conheceram. Ter ele por perto era como se sentir em casa. Quando ela pensava nesse momento dos dois juntos era uma forma de ser transportada para uma lembrança que ela gostava de ter e saber que era compartilhado.

Não sabia seu telefone nem forma alguma de contatá-lo além de seu primeiro nome. Não sabia também se esse nome era verdadeiro. Não conseguia tomar a iniciativa de perguntar mais sobre ele. A internet, tv, rádio anunciavam o fim das enchentes e das chuvas que não cessavam. Mas Bia não se importava pois hoje seria o dia em que ela iria arriscar saber mais sobre esse novo companheiro de viagens.

Depois de comprada a passagem foi ela esperar na estação. Seu companheiro parecia atrasado desta vez. Sua hora chegou e por fim ela sentou em seu lugar, indo pra casa sem ele. Nos dias seguintes o mesmo se repetiu. As mídias anunciavam que as tempestades tinham ido embora e São Paulo não viveria mais por enquanto os alagamentos nem super congestionamentos que parava a cidade. Bia desde então não encontrou mais seu amigo. Se encontrava novamente sozinha na estação todas as noites. Hoje todo dia que chove ela sai mais cedo na esperança de um dia voltar a encontrá-lo passando em frente a estação. Suas lembranças agora a levavam para uma casa do qual ela não gostava de estar.

Nunca havia falado dele para ninguém. Talvez assim ninguém a chamasse de louca ou pensasse que foi coisa de sua cabeça... mas afinal, como poderia deixar de ter sido?

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Gostaria de agradecer à Soledad por ter aceitado participar desta ideia.

A ideia: Ela fazer um ilustra (este que está no topo do post) e depois eu escrever um conto/poema inspirado no mesmo.

Agora será feito o mesmo mas em tempos inversos. Eu farei um conto e depois ela fará um ilustra sobre. Vamos ver como vai ficar. :)

05 fevereiro 2010

Cadarço

Saberia dizer mais de uma vez o que se passa na cabeça de milhões de pessoas mas não o que se passa em sua própria. Sentia falta de não saber como ser doce com os seus próprios sentimentos. Queria entender porque o dos outros lhe parecia tão belo, ingênuo e colorido quando o seu era só mais uma forma estranhada de se sabotar e se esconder atrás daquilo que nunca soube dizer exatamente o que era. Era feito de pedra ou era feito de apostas.

Contava os dias que não esperava nada ao seu redor: ônibus, carinho, solidão... "Era mesmo feito de pedra" pensava ele. Amigo era aquele que estivesse disposto a contrariá-lo infinitamente a ponto de cortar laços. "Laços feitos de apostas"

Laços, algo que não sabia dar, mas sabia desfazer. Engraçado como sobre um pé pode haver tantas metáforas e não ajudar a entender como tirar o fedor do suor de se estar tanto tempo fechado com seus fungos.

Fungos, isso sabia cultivar. Usava contra os outros sim, mas já tinha tanto em volta que era contaminado e causava em si tanto dano como tal. Era pra ser defesa, mas era agora sua única forma de tocar.

O mais belo dos sentimentos não podia nascer em si. Era proibido, seria vendido e de quem iria comprar? Tinha tanta boca, tanta sombra que o sol lá fora doia não só os seus olhos mas a sua alma pela falta do que não tinha. Era feito de livros, filmes e solidão. Tinha medo do cobertor.

Certa feita foi abatido como presa fácil. Nunca mais vontara pela mesma rua, ônibus, escada... todos passavam pelo mesmo lugar e tudo era agora tão pequeno que ele teria que se acostumar a trocar espaço com uma bomba relógio. A cada dia sentia mais medo, mais dor, mais do que a bomba poderia em vida causar. Pois essa era a sua cina, sofrer o máximo que pudesse.

Estava sendo muito bem sucedido quando se viu traído pelos seus fungos. O mofo começava a ganhar cores diferentes, o que era sombra virou aliada. Aliada contra si mesmo. Tentando voltar a ser como era, voltar as horas do relógio-bomba. Mas já era tarde demais, algo tinha acontecido e sobre todos os seus pés e falsos cognatos, um mar de dúvidas inundou sua colheita defensora. Um profundo sentir, furtivo aos olhos de um atendo demais. Nascia em si então o que o seu delírio antes costumava chamar de cegueira.

04 fevereiro 2010

Passatempo


Torna trecho, torna turno
Hora vai, hora vem
Torna tudo, taciturno
Hora tem, hora nem
Torna terno, torna forno
Hora meu, hora seu
Torna tenro, torna torno
Hora estábulo, hora liceu
Torna trenó, torna trena
Hora rena, hora trem
Torna eterno, torna teima
Torna torto que por hora entretem

Favorito



Clico em você na confiança
Na minha estante divagante
Sem saber o porquê da aliança
Meu instante delirante

Fiz por puro comodismo
Para ter sempre a vista
Se torna agora meu abismo
Meu divã, analista

Meu ícone por acaso
Minha visita diária
Meu favorito guardado
Meu segredo quadrado

24 janeiro 2010

Imperfeito

Visto você vindo
Fico fácil fervente
Tendo tido tudo tinindo
Corro contra corrente

Sonso som só
Fosse feito fosso
Que come quase quanto quer
Da dádiva do desconhecido
Ao ar árido agora abismado

Ontem outros olhos
Que controlavam quatro cantos
Hoje habitat hostil
Entregues entre escolhas
Donde da dúvida de despistar
Só sei saborear

20 janeiro 2010

Ele foi apanhado por uma vontade imensa de chorar, mas não conseguia. A única vez que ele foi feliz em chorar foi com ela, e talvez ele não sentisse que devesse manchar seu quadro com essa reação (que até o momento não tinha sentido mais) que tivera se tornado tão bonita desde então. O problema é engolir sozinho quando se esperava poder sempre dividir com ela tais coisas,... mas essa coisa, agora, era só dele. Falta de ar, calafrio. Mal sabia ele que para sua cura bastava um telefonema.

19 janeiro 2010

Original do rascunho

Queria escrever um rascunho pra poder depois arrumar e fazer algo melhor. Acontece que a mania de voltar e ler de novo é agora uma forma de mentir sobre o que havia escrito. É como tirar uma foto e arrumar no photoshop ou como dar conselhos.

Meu rascunho foi escrito tal como deveria ter sido. Não tirei nem coloquei nada que não fosse do momento. Agora, eu tenho momentos em que começo a ensaiar um arrependimento. Mas por que será que me arrependo? Será que é por que eu consegui colocar mais de mim do que gostaria ou por que vejo erros que não podem mais ser corrigidos uma vez que foram já publicados e lidos?

Escrever, viver, falar, são formas de colocar o dedo. Algumas vezes a gente tem a oportunidade de mexer no que já foi feito. Outras vezes temos a oportunidade de só arcar com as consequências, sejam elas boas ou ruins. Eu sei que dá vontade de voltar e querer consertar, mas agora eu estou mais interessado em ver e sentir o que um erro pode arrumar.

10 janeiro 2010

Uma breve história do meu tempo

As vezes me vejo em um filme. Mas não um filme qualquer, desses que passam na TV ou no cinema. Me vejo em um filme sobre a minha vida. Já houve momentos em que eu imaginava esse filme como sendo um filme da minha vida atual, eu como um telespectador. Mas não mais. Hoje eu vejo como se fosse um filme antigo, em preto e branco. Como se eu estivesse participando do meu passado. Como se eu, lá no futuro, fosse capaz de voltar no tempo e viver novamente os momentos que eu tanto quero lembrar.

O engraçado é que essa mudança de perspectiva sobre esse filme que eu vejo me fez viver a vida de uma forma bem diferente. Não é que eu pense que é destino as coisas terminarem iguais como uma vez já foram. É que como tudo já aconteceu, eu agora voltei e resolvi vivenciar um filme que foi feito sem mim.

Mesmo ele sendo em preto e branco eu o vejo muito mais colorido. Dou agora cores para o que antes eu chamaria de formas. Um novo mundo de expressões, emoções e distâncias foram tomando conta aqui dentro.

Tudo tem um começo e fim, mas também tem um meio. O meio é o que nos faz. O começo é o que não tem discussão e o fim, bem, o fim acaba sendo o grande mistério, aquele que é pretensioso e capaz de, em muito momentos, tomar conta daquilo que você foi e daquilo que você poderia ter sido.

09 janeiro 2010

Mantra

Um tira, a razão
Um tira a razão
Uma tira sem razão
Uma tira, sem razão

23 dezembro 2009

Quem saberá?

Gosta de fatos
Gosta de gatos
Gastos escassos
Gatos de laços
Uns tem nossos traços
Outros, abraços

Um fala de dentro
outro do lado de fora
o que era lamento
não mais é agora
se um erra
o outro adora
fora, um beijo doce
(que a libido aflora...
um álibi?
antes fosse)
dentro, gosto de amora

19 dezembro 2009

Lavagem

Fundo
Fundamento
Fundos
Fundação
Manda
Mandamento
Manto
Mantimento
Sento
Sentimento
Lama
Lamento
Cabe
Cabimento
Aparto
Apartamento
Rego
Regimento

Capricho

Mesmo que os pássaros não cantassem mais
Ainda que o sol não me aquecesse
Eu a teria ainda como a maior falta
Eu a teria como prioridade

Provei da sinceridade o sabor
Pela manutenção da minha sanidade
Tomei do cálice do amor
Pra cegar minha dor

Você nos braços de outro ser
Me vejo enlouquecer
Sem a sua
Devanecer

Nem seu amor por mim é meu
Nada é
Ainda sim, sinto como se fosse
Seu gosto doce

De dentro coisas estranhas
Vento frio das entranhas
Tudo tem um novo aspecto
De um outro espectro

O que faz ou deixa de fazer
A minha vida perecer
Não é o fato de você compreender
Mas do que vem a ser

14 dezembro 2009

Força de expressão



Me reservo no direito
(cada um na sua)
Me reservo do direito
(pra fazer errado)
Me reservo em casa
(e não ter nem a caça
muito menos ser caçado)
Me preservo intacto
(inato)
Conto contratos comuns
Defiro aos diferentes
Amigos escolho pelos dentes
(pra parecer mais normal)
O resto, mato a pau

Algum dia talvez eu pague
(até agora nunca ninguém pagou)
Quem sabe eu aprenda
E caia à(a) venda
Alguém me compre
(me mostre que o homem se corrompe)
Meu mestre me faça dormir
(e no sonho finalmente sorrir)

O que sei é que nada disso acontecerá
Porque do passado não aparecerá
Nenhuma história nova
Só se alguém disser
Que naquela cova
(contendo nenhuma prova
só uma vida partidária)
Tem que haver reforma agrária

13 dezembro 2009

Aquilo que não é

Não sinto falta
Não sinto calma
A palma
Alma

Não te amo mais
Não tenho fome
O homem
Capaz

Dividido nada
Vivido tudo
Uma fada
Casulo

De fora pra dentro
Sabido, lamento
Um Sonido
Silêncio

Quanto menos pôr
Mais longe
Um amor
Elefante

Forte o bastate
Pobre falante
Um achado
Passado

07 dezembro 2009

Sobretudo

Queria um lugar para deitar
Bebia pra não ver o tempo passar
Passava a beber para sonhar
Sonhava com um sonho bom
Pensava que precisava saber
Sabia que precisava pensar

19 novembro 2009

Cinzas

Sobre o saibro sóbrio sobra sabre
Tralha de uma batalha grisalha
Mangue de sangue, um bang-bang
Épica época hípica
Nenhuma haste em contraste que baste
Já era hora de amora
Espíritos a espreita
E a mera mira que no muro mora
Agira agora como um angorá

08 novembro 2009

Contra-bando

Com medo eu suavisei a morte
Com um dedo eu avisei a sorte
Que do corte inerte
Havia sangue vermelho
Vermelho bem forte

Me chamam de sério
Talvez eu até seja
Eu não me importo
(De certa forma)
Então que não me veja

Pois quanto mais eu corto
Mais ela almeja
Seja sangue vermelho
Seja sangue cereja

Abria no peito
Sobrava nos ombros
Dizia sem jeito
"Na vida dois caminhos
Mas nenhum é eleito"
Abria ferida
Fazia desfeito

01 novembro 2009

Em segundos...


Em um segundo eu quero um quarto que tenha um cesto com um terço seu.

Extra temporal

Em meio a tanta luz não sabia onde olhar
Era como vários tipos de flores no pomar
Sabia que era difícil se concentrar
Escolhia uma só para oferecer ao mar

Não sabia ao certo por que apenas uma
Não via como desobedecer
Era estranho mas sempre foi assim
E assim é que tinha que ser

Claro que era estranho
Ele não era desse mundo
Vinha de outro lugar
Deste, não estava a par

Ficava mais fácil de seguir
Comer o pão ao invés de sair
Comprar ou vender
Não via como desobedecer
Era estranho mas sempre foi assim
E assim é que tinha que ser

Era deselegante
Era falante
Era errada
Errante amante



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