03 agosto 2022

A forma

Desce pela garganta uma forma estranha

Quer me matar

Quer minha entranha!

E ela me quer e ela me ganha


Faz do meu corpo morada

Do meu sangue sustento

Tem um pouco de nada

E um muito do tempo


Vê-se que nela eu me tenho

E tu também se assemelha

Sofro franzindo o cenho

Ao sentir uma pequena centelha


Queimo agora por dentro

Atado e sem alento

Vencido por um momento

Mas aquecido com seu lamento


Vá-se embora dissabor e amargura

Vinde pronto, ó ternura!

Quanto mais quero mais invento

Uma mentira para apartar meu sofrimento

Nesse caos se fulgura


Não digerir não é opção

E esperar parece sensato

Pois se foi nascido da negação

Será vencido pelo anonimato

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