16 março 2012

Pra fora

E o choro vem bem forte
Vem de dentro, vem de fora
Choro engasgado, choro enroscado
Corre como rio, corre e socorre
Ele tinha ido embora a muito tempo
[sem dar adeus]
Agora eu sei onde ele mora
[mora dentro de mim]

Choro torto, choro senil
Chora menino... chora rio que vira mar
Sorria garoto, vá amar
A vida fica entre poros, cicatrizes
A vida chora em forma de atrizes
[Única forma de autenticidade]
Chora homem, chora sonho velado
Do engasgo, do nó, veio a tosse
Veio tudo de uma vez só
Era respiro, era lágrima
Era alívio, era magma
Vulcão que entra em erupção
Saudade, raiva e alegria
Vontade de negar a negação

Chora homem, chora menino
Chora rio, chora brio
Sai pra encontrar seu mundo
Deixe esse espaço um pouco mais profundo
Vá-se embora pra voltar
Pois aqui, dentro de mim
Terá sempre seu lugar

14 março 2012

Um a menos

Não compartilho da sua insensatez exacerbada
Não crio um buraco só pra me sentir vazio
Não me castigo por ter sido feliz
Não me calo quando era pra ter dito
Melhor ser aberto que interdito.

O pensa-dor

Quando é pequeno o suficiente a gente aperta, aperta até sumir, esmagando entre os dedos. Depois a gente engole o que sobrou, meio que de mal gosto como se fosse um ritual, uma oferenda, um sacrifício. Quando é grande a gente finge que não vê. Tal qual uma parede que fica sendo observada de rabo de olho. É só um apoio, não tem bem uma cor definida, uma forma. Não adianta bater, porque só vai doer em quem bate.

Nada batia, era pra ter um tamanho, seja grande ou pequeno, mas não tinha. Quer dizer, tinha, mas isso não importava. Agora você vai pensar que eu contei aquela história anterior a troco de nada. Bem, sinto lhe dizer, mas só você pode responder isso. Pois bem, era difícil de definir. Ora, como não podia ter um tamanho? - Precisa-se de uma régua, urgente! - Definir faz parte, sem isso eu me perco.

Perdido, era a palavra: Aquele que tenta se achar. Veio atrás de um tamanho, uma régua e uma definição. Coitado, agora sem ter aonde escorar, nem tem o que engolir. Bem feito.

Feito barata tonta ele juntava migalhas a fim de afixar um marco, uma origem [mas barata não faz isso, mas foi feito]. Criara um lugar conhecido e dele fez-se achar.

Acho até que conseguiu, mas tamanha era sua angustia em juntar, que o tamanho foi esquecido. A angústia agora era um problema maior do que a definição de antes. Pelo menos estava definido: angústia, decepção, baixa-estima, tudo tinha um nome, foi achado. As migalhas ainda estavam lá, fazendo boa parte da nova decoração do lugar. Era seu.

Seu conforto foi moldado. Era uma espécie de consolo, raiva. Agora nem tudo devia ser visto, esmagado ou apoiado. Havia choro. Ele já não sabia porque estava ali. Se tivesse saido Dali antes, talvez não fosse preciso criar nada. Seu problema, pensou, "foram as migalhas". Seu erro: ter esquecido.

04 março 2012

Feitiço


Amador amuado
Adorador agorado
Um odor adormecido
Um amor amordaçado
Um tecido retirado
Era só um ter sido
Assim
Enquanto era o outro
Assado
Feito isso
Enfeitiçado



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