17 maio 2010

Céu limite (Projeto Telefone sem fio)

Ilustra: Soledad Cifuentes

Se um dia conseguisse esconder todos os sonhos numa caixinha eu o faria. Assim poderia roubar não só os meus sonhos mas dos outros também e guardar para poder tê-los quando mais precisasse e achasse conveniente. Mas ainda eu não pude.

Talvez os sonhos não caibam mesmo em caixinhas, talvez nem em nossas cabeças, protegidas por cabelos ou não, e só. Nossos sonhos ficam evidentes, respiramos e transpiramos eles e quando vemos que realmente estão evidentes, aparece a negação. E ela não é só para os outros, é para si também pra ver se nos convencemos. Os sonhos não podem ser tão explícitos, precisamos de alguma forma manter em segredo, para que não nos sabotem no meio do caminho, é um plano traçado com detalhes ou não, mas não deixa de ser.

E a gente nega. Nega que queria isso ou aquilo. Não aceitamos a nossa condição de querer coisas e/ou pessoas. É, e a gente quer. Aceitar não me faz nem um pouco satisfeito com a minha condição de possuidor, nem que seja da mentira.

As vezes nos colocamos do lado de fora, descemos o castelo e fingimos não morar lá. Tudo do lado de fora parece mais bonito, é um sonho. Sonhos são mentirinhas que nós contamos todas as noites para nós mesmos. Sonhar implica em mentir. Quem cria mente uma realidade. Mentimos várias vezes para nos convencermos. A repetição nos faz ficar acostumados com uma falsa realidade, que mais pra frente se torna a única coisa que tivemos durante um bom tempo. E ela fica familiar.

Se for fugir, fuja com estilo. Comece mentindo, sonhando, e logo você estará tão longe que só enxergue águas por todos os lados e quem sabe você não acha o seu peixe grande, pescador? Ou quem sabe, se afogue...

2 co-mentários:

Anônimo disse...

Me senti super identificada com o que escreveu. Abraço!
@roksyfm

Camila disse...

"Sonhos são mentirinhas que nós contamos todas as noites para nós mesmos."

Verdade. Mas se assim for, não há nada que eu ache melhor do que mentir para mim mesma.



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